Acho que já
nasci de quina para o conto, haja vista a dificuldade que estou tendo para
escrever essa ficção mais longa e usar o espaço disponível para ‘brincar’ e
tentar seduzir o leitor, ao mesmo tempo levantando e tentando refletir sobre
questões mais complexas, questões humanas de todos nós. No conto não temos
tantos personagens e o foco, de certo modo, mantém-se no que se quer esconder
por trás das outras histórias que se conta, então esse gênero comigo parece
fluir melhor. Eu não penso tanto quando escrevo contos. Penso durante as
revisões, claro, mas o núcleo do texto geralmente se conserva como escrito pela
primeira vez, incrível isso! Já com o romance... estou aprendendo que preciso ter
mais paciência. Outra coisa: escolhi uma história baseada em casos com um pé no
mundo real, coisas assim como essas que lemos nos jornais, onde alguém é
assassinado e a polícia tenta descobrir quem matou. Como a história tinha de
ser algo que me mantivesse presa a ela, indignada e com raiva a ponto de poder
escrevê-la por completo, noto que acabei fugindo do padrão do ‘quem matou e por
quê’ para cair nos motivos que levam à impunidade, à conivência da sociedade
com os crimes que vemos todos os dias no mundo inteiro e com os criminosos que
andam às soltas e até mesmo aceitamos calados entre nós. Ou seja: ganhou um
contexto que me permite dizer muita coisa, criar, divagar e tudo sem fugir às histórias que estou contando. Sinto que o livro está se consolidando em minha
cabeça aos poucos, mas foi essencial ter uma linha reta imaginária do início ao
final desejado, e do conflito principal, antes que começasse a escrever.
Estou realmente curiosa para saber até onde vou conseguir chegar. Nada
foi planejado, acabei deixando de lado outras coisas para me dedicar a este
desafio, mas está sendo muito bom. O que transforma o ser humano não é nem o
que ele escreve, nem a quantidade, mas o simples ato de se pôr para escrever.
Está acontecendo. As asas pressionam o casulo, uma lufada de ar frio lá fora fez-me
encolher cá dentro e apertar as mãos. Hoje foi um dia auto-escrito e exatamente
por isso não sobrou nada que eu pudesse ainda escrever.
Total de palavras escritas hoje (só da história): 0 (zero)