Biblioteca da minha filha no começo do ano. A quantidade de livros já dobrou, a maioria foi doação de crianças já maiores; o livro tem mais é de circular, ainda mais se for livro infantil.
09.10.2013: Hoje levei minha filha a uma biblioteca pela primeira vez. Ela tem
dois anos. Passamos uma hora folheando livros infantis, vasculhando
prateleiras, descobrindo cores, formas, números e tantas coisas mais. Ela
adorou! Voltamos para casa com dois livros novos, que ela mesma escolheu. Só
quero ver como vai ser na hora da devolução. Tenho a leve impressão de que ela
já compreendeu o que significa tomar algo emprestado, mas... vamos ver! Detalhe:
o empréstimo é gratuito, só é necessário ter cadastro como usuário da
biblioteca, que também não tem custo algum. Ou seja: onde livros estão
disponíveis, só não lê quem não gosta, não valoriza e não quer.
23.10.2013: Ontem à noite eu disse à minha filha que hoje
à tardinha iríamos à biblioteca. Desde então ela não parou de relatar nosso
programa: "Buch lesen, Buch lesen (ler livro, ler livro)" explicava
ela a quem perguntasse e a quem não. A prova da disposição é que ela colaborou
em tudo: do vestir-se ao deslocar-se tudo transcorreu na mais perfeita paz, sem
os contumazes chôroros. Foi a segunda visita, devolvemos um dos livros que
pegamos vez passada e ela escolheu outro para tomar emprestado. Aproveitei e
escolhi um também, um romance que se passa em Portugal, cuja sinopse me deixou
muito curiosa, e o nome da autora também (depois revelo). Nossa, tantos livros
bons que é difícil pegar só o que se consegue ler, mas se de grão em grão a
galinha enche o papo, de parágrafo em parágrafo vou saciando minha sede de ler
(e escrever também).
Essas visitas à biblioteca são parte de um programa
infantil de incentivo à leitura. Uma hora de descoberta e diversão no meio dos
livros e das histórias que eles trazem.
E esta nota é parte de um desafio
literário pessoal.
15.11.2013: A terceira visita à biblioteca
deu-se na quarta passada. Direcionada que estive em usar todo o meu tempo livre
para o desafio ‘novembral’, que encerrei ontem, acabei deixando passar o
registro. Minha filha ainda vinha com aquela ressaca do sono da tarde
interrompido e precisou de mais tempo do que o normal para querer participar
das leituras. O tempo inteiro ela só disse ‘não’, sua palavra preferida, e a
bibliotecária leu então a história de duas galinhas: uma que a tudo o que lhe
propunham fazer dizia ‘não’ e a outra que respondia ‘vamos tentar’ e viveram
uma aventura que inverteu os motes de cada uma no final e todas as crianças
pediram em coro que a bibliotecária lesse a história outra vez e todos nos
divertimos. Na hora de irmos embora houve um pouco de estresse: minha filha
escolheu três novos livros para levarmos para casa, mas não queria deixar os
dois que pus na mochilinha dela especialmente para devolver. Expliquei que os
livros não eram nossos e ela chorou, fez escândalo – muito próprio da idade
aliás – mas os livros ficaram lá, onde deveriam, pois outras crianças já
estavam esperando na fila para levá-los para casa. Que livros felizes esses,
não? Livros que alguém quer ler. Quem quiser assegurar o futuro da literatura deve
investir muito em literatura infantil, disto eu nunca duvidei.
11.12.2013: Quarta e última visita à biblioteca no
contexto do programa de iniciação à leitura infantil. Minha filha passou os
dias anteriores falando em irmos à biblioteca e hoje nos arrumamos, saímos de casa
cedo e fomos andando devagar, tão cedo até que chegamos ao prédio e a porta
ainda estava fechada. Como estava frio, convidei-a para darmos uma
voltinha enquanto dava a hora certa da porta se abrir e ela: “Biblioteca,
Mama.” “Filha, não podemos entrar e se ficarmos aqui paradas vamos congelar;
vem, vamos dar uma voltinha e logo logo a gente volta.” Fomos, mas foi difícil
convencê-la. Dez minutos depois estávamos de volta e ela, toda contente porque
a porta se abriu. Tivemos uma hora de leitura bem tranquila, o tema foi a
espera do Natal. No final do encontro, finalizando esta etapa do programa,
todas as crianças participantes ganharam uma sacola com um livro capa-dura,
muito bonito por sinal, acompanhado de dicas de leitura para os pais. Devolvemos
os livros que havíamos tomado emprestado da última vez e pegamos outros três
novos, livros infantis, minha filha que escolheu. Devolvi o romance da autora
que, pelo nome, havia pensando ser brasileira ou portuguesa: Ana Veloso. Não.
Trata-se de uma alemã, provavelmente com o gene da língua portuguesa no sangue,
que estudou Romanística e morou algum tempo no Brasil. Conheço dois de seus
romances, um se passa em Lisboa e o outro em uma fazenda de café em Minas
Gerais, se não me engano. Não completei a leitura de nenhum dos dois, não porque
não sejam bons, mas por ter outras prioridades no momento e ter de respeitar o
prazo de devolução. Volto a tomar emprestado numa outra ocasião. Bom, é isso!
Quis registrar esse primeiro contato da minha filha com a biblioteca na
esperança de que outros pais façam o mesmo: dêem aos pequenos a chance de se
apaixonar pelos livros ainda nas fraldas. Um detalhe que me deixou triste:
apesar da boa divulgação as sessões de leitura foram pouco frequentadas,
somente três crianças estiveram em todos os encontros e puderam levar para casa
o ‘presente’ no final. Uma pena, verdadeiro motivo para lamentar …
* * *
Sim, mas o exemplo é tudo. Essas visitas à biblioteca não teriam sido tão
produtivas se minha filha não visse já o livro como um brinquedo muito
divertido. Eu leio para ela desde a gravidez e depois conto, noutro post, a história do
livro preferido (até o momento): Pinocchio, de Carlo Collodi. Nada foi forçado, tudo o
que fiz foi apresentar-lhe os livros, ter sempre à mão pelo menos um livro infantil para ler em casos de espera ou deslocamentos e trocar ao máximo a TV pela leitura e atividades envolvendo histórias e, por último mas não menos importante: todas as noites ler com ela uma historinha antes de dormir, sem falta, como
parte do nosso ritual, e há muito tempo ela já escolhe o que quer que eu leia. Houve casos de eu ler 'trocentas' vezes o mesmo livro e ela nunca se
cansar, sempre pedir o mesmo até descobrir o próximo que também será lido
'trocentas' vezes (risos), mas com muito prazer. Bom mesmo é vê-la 'ler' para os
bichinhos de pelúcia, ou seja: a criança repete o que vê. Como aqui em casa
estamos sempre às voltas com leitura (eu com a escrita também), o interesse pelos livros foi um caminho natural. Espero que assim
siga, pois o amor que tenho à leitura foi a grande herança que minha mãe adotiva me deixou, coisa que dinheiro jamais poderá pagar.
Eis a prova do prazer de manusear e brincar com os livros:
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