Peças. Grandes conseqüências, pequenas ações: tal relação nunca deixa de me impressionar. Sem saber ou
estar querendo podemos impulsionar mudanças nas vidas das pessoas, interferindo
em suas decisões. Pois assim uma ‘achegada’ conta: que se hoje vive na Alemanha
deve a algo que um dia eu lhe falei. Eu digo que é exagero e agora explico:
quando nos conhecemos, ela estava atordoada com a língua ‘y otras cositas
más’, perdida na confusão que toda fase de adaptação traz. Descendente de alemães nascida no Brasil, ela
havia já feito visitas e até intercâmbio nas terras de Teutates, mas língua é justa e manhosa: não
usou, enferruja, só aparece quando a necessidade está e permanece. Se as
crianças, que são crianças, precisam de uns três anos para dominar relativamente as que ouvem todos os dias, imagine alguém passado dos trinta que só ouviu CDs e fez umas aulas de quando em vez
para refrescar?! Pense! Ela falou: vou voltar para o Brasil e aprender Alemão
primeiro, depois volto para cá. Ao que eu comentei: Pô, você está na Alemanha
e quer aprender Alemão no Brasil?! Não faz sentido... Pronto! Deu-lhe um estalo no cascalho e de
lá para cá, ela conta, sua vida começou a mudar. Na tempestade de areia
fechamos os olhos, e com olhos fechados o óbvio é difícil ver.
Ajudei-a a encontrar um curso de línguas, ela logo arrumou apartamento, amigos e do resto a vida se encarregou. Hoje ela trabalha para uma multinacional, tem
vida própria e está bem. Outro dia ela veio de visita e recordamos esse começo. Com ou sem exagero, fui uma peça nas engrenagens de
sua vida, assim como uma peça-chave na minha fez-me alterar hoje
cedo a foto do meu perfil. O que é corriqueiro para muita gente, para mim foi
um importante marco: uma nova etapa começou.
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