Por Helena Frenzel
Há tempos eu vinha
ensaiando escrever um post sobre maternidade, mas só agora apertou-me a
garganta a ponto de não mais poder postergar.
Maternidade para mim foi
uma escolha, algo muito diferente do que se deu com minha mãe e bilhões de
mulheres pelo mundo afora, que não tiveram direito a nada, muito menos a
escolher. Por isso não acho justo acusarem de ir-contra-a-causa mulheres que optam por ficar em casa cuidando dos
filhos, ou que priorizam os filhos à carreira profissional, por exemplo, sob
pretexto de estarem contribuindo para a manutenção dos mitos que tentam manter
as mulheres presas à lavanderia e ao fogão.
Tornei-me mãe
já quase aos quarenta, e nossa filha foi um presente de Deus no tempo
certo, veio quando ninguém mais esperava, nem os especialistas, muito menos eu.
Um dos médicos que consultei na época me disse: engravidar, como parar
de fumar, depende muito mais da cabeça do que dos métodos. Uma questão de fé ou força de vontade. Há coisas que, simplesmente, não têm explicação.
E veio no momento certo
porque eu e meu marido havíamos já passado boa parte de nossas vidas cuidando
dos interesses próprios, daí dedicar-nos ao cuidado de um filho seria muito
natural. Escolhemos então: queríamos ser pais. Por um tempo até acreditamos que
não poderíamos, mas a vida nos mostrou que sim, que seríamos e hoje somos e,
independente do que nos traga o futuro, jamais deixaremos de ser.
E para bem aproveitar
cada etapa no desenvolvimento da nossa filha, tive o privilégio de poder decidir
deixar tudo o mais de lado para ficar em casa cuidando dela eu mesma, porque eu
simplesmente não queria perder nada nestes primeiros anos, por mais estresse
que eu pudesse ter – e houve momentos muito difíceis, mas superamos todos e
tê-los vivenciado transformou-nos em ‘pais’.
Sei que muitas mulheres
não têm ou tiveram essa escolha, TÊM DE trabalhar MESMO e deixam os filhos
crescendo sós ou aos cuidados de outras pessoas. E não escrevo muito sobre este
assunto porque creio que para a criação de filhos e relacionamentos não há
receitas, cada caso é um caso, o que funciona para mim não serve para um montão
de gente e o que funciona para outros, para mim pode não ter o menor valor, mas
o que não aceito mesmo é alguém apontar o dedo a outras pessoas ditando como
elas devem viver ou não. Quem luta por liberdade e igualdade de homens e
mulheres deveria saber que livre é quem pode escolher.
O mais importante é a felicidade
da criança, o seu bem-estar. Maternidade rima com responsabilidade, requer
tempo, paciência e dedicação. O que eu percebo é que muita gente deseja ter
filhos mas não está disposta a ter de renunciar a nada e crê no mito de que assoviar e chupar cana ao mesmo tempo é
perfeitamente possível. Pode até ser, mas eu não acredito. Nestes casos, não
ter filhos parece-me uma opção mais acertada, sobretudo para a criança, que
será poupada de crescer sem a devida atenção dos pais.
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