terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Pensando nos ‘porcos’... e nas culpas que lhes dão

Õinc! ÕincÕincÕiiiiiiinc!


Adoro questões lingüísticas, amo ficção. E se eu fosse só pelos dicionários aceitaria que ‘porco’ derivou a ‘porcaria’, mas em se tratando de línguas, em muitos casos só nos resta especular ao imaginar uma ‘possível’ situação,  fazendo de conta que assim e assim ocorreu. 

Então, pois eu estava lendo El ingenioso hidalgo Don Quijote de la Mancha, um texto de Miguel de Cervantes, de 1605, se não me engano, quando topei com a seguinte frase:

“En esto sucedió acaso que um porquero que andaba recogiendo de unos rastrojos una manada de puercos (que, sin perdón, así se llaman) ...”

Porcos (que, sem perdão, assim se chamam)...

E me pus a pensar na arbitrariedade (das línguas) e, mais especificamente, nesta questão: quem recebeu nome primeiro: o porco ou a porcaria que dizem que ele fez?

Veja bem: acho que a sujeira (que dizem que os porcos fazem) é coisa que existe desde o que o mundo começou a girar. E como é muito comum primeiro constatarem o feito e depois buscarem os culpados, acho que, neste caso, os porcos se deram mal, talvez tenham tido o azar de estar por perto quando alguém, um alguém importante, abismado com uma cena ou situação de caos que, à cata de uma explicação primeira, olhou para os lados, viu uns bichos malcheirosos fuçando a lama e não deu outra:

-       Foram aqueles lá, disse convicto.
-       E como eles se chamam, papai?
-       Se chamam... se chamam porcos!
-       E o que estão a fazer?
-       Porcaria! Porcaria é o que eles fazem - , disse sem muito pensar, -  e é só o que sabem fazer, esses porcos!

Mas a recém denominada “porcaria”, de fato já estava lá, e quem a fez não teve a decência de assumí-la, achou melhor calar ao ver a culpa atirada aos porcos. E esse que se calou foi o primeiro ‘porquero’ que a Terra deu, e aos montes viu multiplicar.

E estes que fuçando a terra estavam, fuçando seguiram então, sem poder contestar jamais um tal batismo e uma tão leviana acusação.

Ou seja: 'porquero' fez a porcaria e os porcos levaram a fama; 'porquero' não tem patas, 'porquero' tem dois pés. 

E aí, quem surgiu primeiro: o corrupto ou a corrupção? Talvez a omissão seja a origem de tudo, mas vá saber... não?

Esta foi a minha (fictícia) hipótese. E a sua, qual será?



© 2014 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Para ti, outra vez

Escrevi o texto a seguir em 2012, pela passagem do aniversário de uma grande amiga. Como não havia ainda compartilhado com outros amigos, aproveito a volta do calendário para publicá-lo aqui e renovar meus votos de Feliz Aniversário todos os anos e tudo, tudo de bom!

*  *  *

Para Ti





Alegria, alegria, Isabel, porque: “o que Deus ordenou” teu nome significa, e vem de Elisabeth, nome de rainha, elischeba, nome hebreu. Alegria, alegria porque, neste ano de dois mil e doze, dos maias e dos incas, além de ti, aniversariamos também nós: há quase vinte anos estávamos para nos conhecer, após o Carnaval. E parece que foi ontem. Ah, recordações...

Metendo-me como meto-me a ‘gravarunhar’ de vez em quando, não pude deixar de ‘atentar’ um texto para a ocasião. Repito: parece que foi ontem, MESMO, até mesmo quando te tornaste mãe. Na época, confesso, foi difícil, para mim, entender a grande mudança e a constante falta de tempo que alegavas, por ter de sumir dos amigos, voltar-te para quem requeria cem por cento de tua atenção, e a teve, e tem: teu filho, tua família.

Pois bem, agora que também sou mãe compreendo-te perfeitamente. Com filhos, a coisa é assim mesmo: não se pode ter preguiça, não se pode dormir, telefonar e, logo no começo, por vezes, não se tem tempo sequer para escovar os dentes, tomar banho, ir ao banheiro; tem que se fazer tudo rapidinho, relâmpago! E família deve vir sempre em primeiro lugar.

Fecho os olhos, muitas vezes, e vejo uma noite: Araçagy, bar à beira-mar, um ventinho frio gostoso, Everaldo tocando e nós caetaneando músicas alheias, djavaneando Tom, Marisa e outros, sem nos preocupar os copyrights. O que fazer com as canções libertinas que, sem querermos, incorporam-se às trilhas sonoras de nossas vidas? Como pagar pelo pecado de poder ouvir e recordar? Das músicas bem conhecemos e respeitamos a autoria, e por serem parte das histórias das gentes cantarolamo-las sem pensar. “Um cantinho, um violão” (1), uma roda de amigos, e isso fizemos: cantamos o amor à vida, a alegria de celebrar.

E pra não dizer que não falei de caranguejos, de comer toc-toc e casquinha na praia, tens toda razão: é coisa cultural, estrangeiro não entende! Sem tirar a teoria ‘fookniana’ do preparo da casquinha: a velha debaixo da pia, depois de ter saído da cama, mastigando a massa que vai parar lá - DENTRO. Credo! Ridículo! E esses ‘ridículos’ só me fazem lembrar de ti, de nossa fala peculiar, da uni e dos domingos litorâneos com pizzas e sorvetões, da água de coco, do Reggae, da Crioula, do Boi e do Reviver, até mesmo da Maguinha, que César fez nascer (2).

Pesadelo então é acordar e pensar que nada disso tenha existido, que sonhei apenas, que... Mas deixo logo disso pois “na fotografia estamos felizes, são anos dourados!” (3), o que sela estas recordações, que são meu presente para ti. Não te ligo afobada pra desejar tudo de bom, mas deixo aqui um registro (para a posteridade talvez) do quanto ter amigos, amigos de verdade, é muito bom.

Feliz aniversário, Isabel, saúde, força e fé!

* Trecho de Isabella, Tom Jobim.
(1) Trecho de Corcovado, Tom Jobim.
(2) Referência à canção Maguinha do Sá Viana, de César Nascimento.
(3) Trechos de Anos Dourados, Tom Jobim e Chico Buarque.


Helena Frenzel


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© 2014 Helena Frenzel. Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons - Atribuição - Sem Derivações - Sem Derivados 2.5 Brasil (CC BY-NC-ND 2.5 BR). Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito à autora original (Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Bluemaedel Lê - novo blogue.

Queridos Leitores,

Criei um novo espaço, uma extensão deste blogue, onde passarei a registrar a partir de agora minhas impressões e experiências de leitura. 

Achei melhor separar um pouco mais as coisas, dado que o Bluemaedel é um tipo de caixa de  recordações onde guardo coisas que me tocam ou emocionam, não só as leituras, fotos, "bobagem-zinhas", enfim: o que me faz feliz. 

Quem desejar acompanhar meus registros de leitura ou deixar comentários por aqui ou por lá, que seja muito bem-vindo(a), fique à vontade. 

Grata pela companhia e atenção,

Helena Frenzel.


Bluemaedel Lê - bluemaedelle.blogspot.com