Escrever ‘bem’ não é SÓ uma questão
de dominar a língua, não SÓ uma questão de adequação a um padrão gramatical. Não, claro que
não. Escrever ‘bem’ tem muito mais a ver com transmitir idéias, propósitos,
experiências, extravasar sentimentos, ter algo a dizer ou histórias para
contar. E se a pessoa maneja a palavra de modo a fazer tudo isto de um jeito
próprio e artístico, muito melhor, não? Que me desculpe quem discorda, mas
mesmo tendo-a como secundária, não gosto de descuidar da forma, não me sinto
bem ao fazê-lo, esforço-me para produzir algo que me seja ao menos agradável
aos olhos e, conseqüentemente, aos olhos de quem vier a lê-lo. Outro
ponto: quando se gosta de uma coisa, é natural que cuidemos dela, que promovamos
o zelo. E essa é a minha relação com a língua portuguesa do Brasil, minha
língua materna. Se eu não gosto de ver pessoas maltratando quem eu amo, também
não me sinto confortável ao ver minha língua-mãe sendo maltratada a torto e a
direito por aí. Por isso escrevo de vez em quando a respeito, pelo desleixo com
a própria língua, pior ainda da parte de pessoas que, queiram ou não, servem de
modelo para quem ainda está ‘aprendendo’ a escrever. Erros que há muito
extrapolam os pequenos deslizes para cair na categoria de uma linguagem que ofende
o leitor de tão crassa que é. Por isso, quando tenho de falar sobre um texto,
geralmente porque pediram a minha opinião, já que não saio mais por aí dando pitaco
a esmo, não posso fugir de cair numa das quatro categorias: fulano escreve bem
e tem muito a dizer; fulano escreve bem, mas não tem muito a dizer; fulano
escreve mal, mas tem muito a dizer; fulano escreve mal e não tem nada a dizer.
E desta última categoria, se eu tiver mesmo de dizer algo, digo só para o
fulano e se ele achar que serve, bem; senão... sigamos. Assim espero que as
pessoas ajam comigo também. Nunca devemos nos esquecer de que ‘bom’ ou ‘ruim’
são avaliações subjetivas, o que não é 'bom' para mim, pode ser 'ótimo' para outras
pessoas, e isso é perfeitamente normal. Considerando que fulano havia pedido uma
opinião sincera sobre seus escritos, será que estaria lhe fazendo mal apontando o que poderia estar melhor?
Será que cuidar um pouquinho mais da forma ou da linguagem é mesmo algo tão
prejudicial? Não entendo certos melindres.
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