quarta-feira, 30 de outubro de 2013

PAPO DE ESCRITOR(ES) - III



Pesquisa de opinião

Queria fazer uma perguntinha, mas gostaria que as pessoas fossem bem sinceras em suas respostas. Não é pegadinha nem crítica a erro alheio nem zombaria, porque errar todos erramos e errar não é vergonha, estou apenas curiosa pelas respostas e a curiosidade é o que me move aqui, nada mais.

Vamos à pergunta: você compraria um livro de autor ou autora da qual você nunca ouviu falar, cujo texto de apresentação começasse assim: "Desde criança tive que aprender a lhe dar com perseguições." Você compraria?

MAUREM KAYNA: Em nenhuma hipótese.

BEATRIZ MECKING: Não.

MARCELO BRAGA: Uma introdução bem 'refrequissiva'... (gargalhada)

MARIA CRISTINA J SILVEIRA: (risos) Não 'li-dei' bem com isso!

HELENA FRENZEL: Pois é, antes que me perguntem: eu acho que até abriria numa página aleatória e seguiria um pouco a leitura para tirar a prova dos nove, mas provavelmente não compraria não. Não, não compraria. Como já disse, errar é humano e eu não sou de julgar um livro de cara só por uma capa ou por poucas linhas, mas...

CELÊDIAN ASSIS: Certamente não compraria, mas "lhe daria" (ao autor(a)) um pouco mais de meu tempo, lendo pelo menos até o fim da apresentação, onde talvez ele(ela) nos conte como conseguiu escrever um livro.

MARCO AURELIO VIEIRA: Eu não.

HELENA FRENZEL: Como já disse, não se trata de uma crítica aos erros de Português que encontramos por aí, mas um livro que é concebido com finalidade principal de vendas, venhamos e convenhamos: é preciso atentar para todos os detalhes MESMO e está se tornando muito freqüente encontrar casos em que o autor ou a autora (ou a casa editorial) dá um tiro no próprio pé quando oferece ao leitor um produto cheio de defeitos, não é não? Ainda mais em se tratando de autores iniciantes que querem ganhar a atenção do leitor fora do seu ciclo de amigos e familiares, e mais estranho ainda: desejam obter muitas vendas. Não sei, só queria mesmo saber quantos dos meus colegas aqui comprariam um livro assim. Curiosidade apenas. Eu respeito o esforço de todos os que escrevem ou tentam, pois só o ato de escrever já vale por si.

CONCEIÇÃO GOMES: sou seletiva, penso que não.

ANTONIO MARIA SANTIAGO CABRAL: Tenho clamado contra isso a vida inteira, principalmente nos sites literários de que faço parte. O problema não é o ignorante, esse sabe o seu lugar; o problema é o ególatra ignorante - o sujeito "pensa" que é escritor e/ou poeta e sai por aí afora publicando os seus lixos literários.

TÂNIA MENESES: não.

MIRIAM DE SALES: Jamais! E se eu nunca ouvi falar é porque bom não é.

LUCIA NARBOT: Acho que não. Não penso que todo escritor deva ser um expert em Português (ou na língua na qual escreva), mas há erros inconcebíveis. Quem se propõe a escrever deve ter a humildade de comprar, no mínimo, uma Gramática e um Dicionário e consultá-los sempre, além de ler muito, porque é lendo que se aprende a escrever.

ANTONIO MARIA SANTIAGO CABRAL: Quem escreve para o público tem a obrigação inalienável de ter o domínio do idioma; se não o tem, que seja humilde e solicite ajuda de amigos mais instruídos ou de profissionais para uma revisão adequada. Afinal, é prudente observar o ditado latino: "Verba volant scripta manent” (As palavras voam, mas os escritos ficam)

TANIA ORSI VARGAS: eu penso que não seria editado algo assim (risos), mas também penso que um bom escritor não é aquele que escreve impecavelmente a sua língua, até porque existem pessoas que se encarregam de fazer a revisão. Até porque quem é muito bom escritor sabe escrever da melhor forma e literariamente.

PATRICIA CUNHA LAGO: "Lhe dar"??? (risos). Não.

ANA BAILUNE: Acho que eu ficaria curiosa, e dependendo do preço, compraria, sim.

ANA BAILUNE: Hum... Miriam, desculpe, mas não concordo com o que você disse. Até Machado de Assis já foi um dia um escritor mundialmente desconhecido. O pintor Van Gogh só vendeu um quadro em vida...

JOSÉ CLÁUDIO ADÃO: Lembra de minha crônica "Quando rir não é o melhor remédio?" Pois é... (risos).

HELENA FRENZEL: Pois é, José Cláudio Adão, lembrei na hora da sua crônica. Perfeita observação!

AILTON AUGUSTO: Helena, a pergunta é interessante. Não podemos desconsiderar, como foi levantado por você mesma e pelos demais comentadores, que o ato de escrever exige conhecimento da língua (ou humildade para buscá-lo) e que o trabalho de revisão deve ser feito com seriedade e lisura para sanar os "erros" mais gritantes. Penso que ler uma página aleatória ou pelo menos terminar de ler a apresentação seriam atitudes melhores que uma decisão terminante de não comprar o livro. Apesar disso, acho pouco provável que eu fosse comprá-lo nessas condições.

VANY GRIZANTE: Autor desconhecido - sim, compraria sem dúvida; mas com esse cartão de visitas, jamais. Se erro grosseiro de Português (descontada a digitação, em pequena escala) for preconceito, então sou preconceituosa assumida.


MICHELE CALLIARI MARCHESE: Opa! Saí de um livro assim... a história era boa, mas a quantidade de erros ortográficos e outras coisas mais, ficou medonho! Cruz credo!



*  *  *


HELENA FRENZEL: Relacionado ao PAPO DE ESCRITOR(ES) de hoje cedo, no qual perguntei se o leitor compraria, de autor desconhecido, um livro com erros tais, lembrei de um caso que vi na Internet há algum tempo e aqui compartilho: uma escritora contava em seu blog que havia pago uma editora X para imprimir seu primeiro livro e quando recebeu o produto quase morreu de raiva pelo que viu. Além do péssimo trabalho gráfico, ela disse que ‘corrigiram’ o texto (que na verdade estava revisado e correto, segundo ela) criando ‘erros crassos’ que não existiam no original, e que ela estava brigando na justiça para conseguir o dinheiro de volta. Pior: quem viesse a ler um exemplar não saberia se os erros foram do original ou da editora X, de modo que todo mundo perdeu: a autora, os editores e os leitores. A experiência tem me mostrado que não existe autor perfeito, todos somos humanos e cometemos erros seja na hora de escrever ou editar. Observo, no entanto, que o que prolifera hoje em dia são pessoas mal-intencionadas tentando se aproveitar de quem sonha em publicar seus textos em forma de livro impresso, e isso eu também levo em conta antes de tecer julgamentos sobre um produto editorial. Por isso recorro à prova dos nove: ler um pouco mais para ‘crer’ e só depois julgar. Mas quando os erros são 'terríveis', é muito difícil ignorar, por melhor que seja a história... Mas comprar, não compro mesmo, pois aí já é uma outra história.

ANA BAILUNE: Já achei erros até mesmo em livros de gramática inglesa - e erros bem cabeludos... se errar é humano, não conheço ninguém mais humana do que eu... nem esquento.

MIRIAM DE SALES: Helena, você tem toda razão; nosso mercado está cheio de oportunistas e falsos editores visando, apenas, se aproveitar do iniciante, ansioso por ver sua obra publicada. Alguns editores até se orgulham de ostentar o título de "comerciais", recebendo o aval para publicar, no Brasil, lixo americano produzido para vender aos mais desavisados; a literatura do espetáculo da qual nos fala Vargas Llosa. Pior é na área de seletas e antologias. Uma verdadeira máquina de fazer dinheiro. Conheço um caso em que o "organizador" contratou uma editora séria para fazer o livro, não pagou tudo que devia, e, ainda, contratou o livro já contratado a um site literário que faz livros mas não é editor, e nunca buscou o contratado anteriormente, prejudicando a editora e, principalmente, os autores.

CONCEIÇÃO GOMES: Sim, todo cuidado é pouco.


HELENA FRENZEL: A coisa está pior do que sonhava a minha vã filosofia (risos). Sim, no caso dessa escritora, ela resolveu denunciar a casa editorial, pôs a boca no trombone mesmo, ou melhor: no blog. Olho vivo, todos nós!! Valeu, Miriam de Sales, por sua participação. Obrigada a todos os comentaristas, valeu!


Nota: a série Papo de Escritor(es) busca reunir, num único post, pontos mais importantes de conversas que temos por aí. A reprodução dos comentários foi devidamente autorizada por cada participante.


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