quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Bom, ótimo ou genial: a dor do adjetivo



“Que apresenta as qualidades esperadas”, “competente, eficaz”, “grande”, “o que é superior em qualidade, beleza etc.” segundo o Houaiss isso tudo pode ser “bom”.

Já “ótimo” ou “óptimo”, com a grafia de Portugual, significa “(o) que é melhor possível; excelente” e como interjeição “exprime aprovação, agrado; muito bem, muito bom.”

Genial, no Brasil, tem sido informalmente usado como “ótimo, formidável” e se tudo o que se encontra na rede hoje em dia é ‘genial’, o que sobra pra dizer dos grandes do passado? E esta pergunta Ariano Suassuna já se fez e lançou. E aí?

Este post não é uma aula, é só um post, à la Magritte e o cachimbo, é só uma tentativa de desacelerar o pensamento e fixar a atenção no esquecido, no que se deixa sempre passar, seja por ignorância ou para não magoar, mas aí mente-se e a mentira, uma vez crescida, é uma trepadeira difícil de podar.

E para quem ainda acha que todos somos gênios e tanto faz ‘ótimo’ ou ‘bom’, compartilho esta pérola do mago Sará:

(...) assim se demonstrando, uma vez mais, não só que o óptimo é inimigo do bom, mas também que o bom, por muito que se esforce, nunca chegará aos calcanhares do óptimo.”  - José Saramago em A Viagem do Elefante, Caminho Ed, páginas 171-172.


Todos podemos flutuar vez em quando em adjetivos, claro, desde que jamais esqueçamos do quão necessário é, sob elogios, um concreto chão.





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O Dia da Reforma



Martinho Lutero é uma figura que ainda hoje causa muita polêmica. Sempre haverá quem dele fale bem ou mal, quem o ame ou quem o odeie. E por ser hoje o dia em que se comemora o Dia da Reforma aqui na Alemanha, vejo Lutero como alguém que mudou o mundo simplesmente por ter compartilhado o conhecimento maior de sua época, que era acessível somente a um pequeno grupo e restringia-se a quem estava no poder. Lutando contra poderes deste e de outro mundo (segundo suas próprias declarações) ele traduziu em 11 semanas o Novo Testamento do Grego para o Alemão (1). Vendo por este ângulo, diria rapidamente e num rompante, sem muito pensar e independente de ideologias e crenças, que Lutero foi o Snowden ou o Assange de sua geração. O esforço para manter as pessoas na ignorância segue muito forte e vez em quando é necessário que surja alguém para agitar as águas, pois só assim se pode avançar.


(1)   Informação obtida no site luther.de




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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

PAPO DE ESCRITOR(ES) - III



Pesquisa de opinião

Queria fazer uma perguntinha, mas gostaria que as pessoas fossem bem sinceras em suas respostas. Não é pegadinha nem crítica a erro alheio nem zombaria, porque errar todos erramos e errar não é vergonha, estou apenas curiosa pelas respostas e a curiosidade é o que me move aqui, nada mais.

Vamos à pergunta: você compraria um livro de autor ou autora da qual você nunca ouviu falar, cujo texto de apresentação começasse assim: "Desde criança tive que aprender a lhe dar com perseguições." Você compraria?

MAUREM KAYNA: Em nenhuma hipótese.

BEATRIZ MECKING: Não.

MARCELO BRAGA: Uma introdução bem 'refrequissiva'... (gargalhada)

MARIA CRISTINA J SILVEIRA: (risos) Não 'li-dei' bem com isso!

HELENA FRENZEL: Pois é, antes que me perguntem: eu acho que até abriria numa página aleatória e seguiria um pouco a leitura para tirar a prova dos nove, mas provavelmente não compraria não. Não, não compraria. Como já disse, errar é humano e eu não sou de julgar um livro de cara só por uma capa ou por poucas linhas, mas...

CELÊDIAN ASSIS: Certamente não compraria, mas "lhe daria" (ao autor(a)) um pouco mais de meu tempo, lendo pelo menos até o fim da apresentação, onde talvez ele(ela) nos conte como conseguiu escrever um livro.

MARCO AURELIO VIEIRA: Eu não.

HELENA FRENZEL: Como já disse, não se trata de uma crítica aos erros de Português que encontramos por aí, mas um livro que é concebido com finalidade principal de vendas, venhamos e convenhamos: é preciso atentar para todos os detalhes MESMO e está se tornando muito freqüente encontrar casos em que o autor ou a autora (ou a casa editorial) dá um tiro no próprio pé quando oferece ao leitor um produto cheio de defeitos, não é não? Ainda mais em se tratando de autores iniciantes que querem ganhar a atenção do leitor fora do seu ciclo de amigos e familiares, e mais estranho ainda: desejam obter muitas vendas. Não sei, só queria mesmo saber quantos dos meus colegas aqui comprariam um livro assim. Curiosidade apenas. Eu respeito o esforço de todos os que escrevem ou tentam, pois só o ato de escrever já vale por si.

CONCEIÇÃO GOMES: sou seletiva, penso que não.

ANTONIO MARIA SANTIAGO CABRAL: Tenho clamado contra isso a vida inteira, principalmente nos sites literários de que faço parte. O problema não é o ignorante, esse sabe o seu lugar; o problema é o ególatra ignorante - o sujeito "pensa" que é escritor e/ou poeta e sai por aí afora publicando os seus lixos literários.

TÂNIA MENESES: não.

MIRIAM DE SALES: Jamais! E se eu nunca ouvi falar é porque bom não é.

LUCIA NARBOT: Acho que não. Não penso que todo escritor deva ser um expert em Português (ou na língua na qual escreva), mas há erros inconcebíveis. Quem se propõe a escrever deve ter a humildade de comprar, no mínimo, uma Gramática e um Dicionário e consultá-los sempre, além de ler muito, porque é lendo que se aprende a escrever.

ANTONIO MARIA SANTIAGO CABRAL: Quem escreve para o público tem a obrigação inalienável de ter o domínio do idioma; se não o tem, que seja humilde e solicite ajuda de amigos mais instruídos ou de profissionais para uma revisão adequada. Afinal, é prudente observar o ditado latino: "Verba volant scripta manent” (As palavras voam, mas os escritos ficam)

TANIA ORSI VARGAS: eu penso que não seria editado algo assim (risos), mas também penso que um bom escritor não é aquele que escreve impecavelmente a sua língua, até porque existem pessoas que se encarregam de fazer a revisão. Até porque quem é muito bom escritor sabe escrever da melhor forma e literariamente.

PATRICIA CUNHA LAGO: "Lhe dar"??? (risos). Não.

ANA BAILUNE: Acho que eu ficaria curiosa, e dependendo do preço, compraria, sim.

ANA BAILUNE: Hum... Miriam, desculpe, mas não concordo com o que você disse. Até Machado de Assis já foi um dia um escritor mundialmente desconhecido. O pintor Van Gogh só vendeu um quadro em vida...

JOSÉ CLÁUDIO ADÃO: Lembra de minha crônica "Quando rir não é o melhor remédio?" Pois é... (risos).

HELENA FRENZEL: Pois é, José Cláudio Adão, lembrei na hora da sua crônica. Perfeita observação!

AILTON AUGUSTO: Helena, a pergunta é interessante. Não podemos desconsiderar, como foi levantado por você mesma e pelos demais comentadores, que o ato de escrever exige conhecimento da língua (ou humildade para buscá-lo) e que o trabalho de revisão deve ser feito com seriedade e lisura para sanar os "erros" mais gritantes. Penso que ler uma página aleatória ou pelo menos terminar de ler a apresentação seriam atitudes melhores que uma decisão terminante de não comprar o livro. Apesar disso, acho pouco provável que eu fosse comprá-lo nessas condições.

VANY GRIZANTE: Autor desconhecido - sim, compraria sem dúvida; mas com esse cartão de visitas, jamais. Se erro grosseiro de Português (descontada a digitação, em pequena escala) for preconceito, então sou preconceituosa assumida.


MICHELE CALLIARI MARCHESE: Opa! Saí de um livro assim... a história era boa, mas a quantidade de erros ortográficos e outras coisas mais, ficou medonho! Cruz credo!



*  *  *


HELENA FRENZEL: Relacionado ao PAPO DE ESCRITOR(ES) de hoje cedo, no qual perguntei se o leitor compraria, de autor desconhecido, um livro com erros tais, lembrei de um caso que vi na Internet há algum tempo e aqui compartilho: uma escritora contava em seu blog que havia pago uma editora X para imprimir seu primeiro livro e quando recebeu o produto quase morreu de raiva pelo que viu. Além do péssimo trabalho gráfico, ela disse que ‘corrigiram’ o texto (que na verdade estava revisado e correto, segundo ela) criando ‘erros crassos’ que não existiam no original, e que ela estava brigando na justiça para conseguir o dinheiro de volta. Pior: quem viesse a ler um exemplar não saberia se os erros foram do original ou da editora X, de modo que todo mundo perdeu: a autora, os editores e os leitores. A experiência tem me mostrado que não existe autor perfeito, todos somos humanos e cometemos erros seja na hora de escrever ou editar. Observo, no entanto, que o que prolifera hoje em dia são pessoas mal-intencionadas tentando se aproveitar de quem sonha em publicar seus textos em forma de livro impresso, e isso eu também levo em conta antes de tecer julgamentos sobre um produto editorial. Por isso recorro à prova dos nove: ler um pouco mais para ‘crer’ e só depois julgar. Mas quando os erros são 'terríveis', é muito difícil ignorar, por melhor que seja a história... Mas comprar, não compro mesmo, pois aí já é uma outra história.

ANA BAILUNE: Já achei erros até mesmo em livros de gramática inglesa - e erros bem cabeludos... se errar é humano, não conheço ninguém mais humana do que eu... nem esquento.

MIRIAM DE SALES: Helena, você tem toda razão; nosso mercado está cheio de oportunistas e falsos editores visando, apenas, se aproveitar do iniciante, ansioso por ver sua obra publicada. Alguns editores até se orgulham de ostentar o título de "comerciais", recebendo o aval para publicar, no Brasil, lixo americano produzido para vender aos mais desavisados; a literatura do espetáculo da qual nos fala Vargas Llosa. Pior é na área de seletas e antologias. Uma verdadeira máquina de fazer dinheiro. Conheço um caso em que o "organizador" contratou uma editora séria para fazer o livro, não pagou tudo que devia, e, ainda, contratou o livro já contratado a um site literário que faz livros mas não é editor, e nunca buscou o contratado anteriormente, prejudicando a editora e, principalmente, os autores.

CONCEIÇÃO GOMES: Sim, todo cuidado é pouco.


HELENA FRENZEL: A coisa está pior do que sonhava a minha vã filosofia (risos). Sim, no caso dessa escritora, ela resolveu denunciar a casa editorial, pôs a boca no trombone mesmo, ou melhor: no blog. Olho vivo, todos nós!! Valeu, Miriam de Sales, por sua participação. Obrigada a todos os comentaristas, valeu!


Nota: a série Papo de Escritor(es) busca reunir, num único post, pontos mais importantes de conversas que temos por aí. A reprodução dos comentários foi devidamente autorizada por cada participante.


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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

"Um livro que todos deveriam ler"


Foto: HFrenzel, 2013 - foto da capa da edição em Espanhol.


Isso mesmo! Este foi o comentário que despertou meu interesse por este título: el Arte; e foi feito pela Juliana Gervason, do blog o batom de clarice, um dos que tenho acompanhando ultimamente.  Pois é,  comprei e li este livro - em poucas horas, degustando cada capítulo -  no original em Espanhol, e sou da mesma opinião que a Juliana: um livro que deveria, sim, ser lido por todo mundo, principalmente por quem pensa que não sabe nada de arte, por quem pensa que sabe tudo, por quem tenta não pensar nada e só busca senti-la, por quem gosta de desenhos, enfim por quem está buscando inspiração e deseja uma leitura proveitosa, profunda nas questões que toca e ao mesmo tempo leve na forma de exposição. Eu, como fã do princípio da simplicidade, só poderia recomendá-lo, claro.

El Arte, conversaciones imaginarias com mi madre, Juanjo Sáez, Reservoir Books, 7a Edição, 2010. Há uma tradução para o Português.



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domingo, 20 de outubro de 2013

Uma conversa sobre literatura, minha razão de 'ser' e aqui estar :-)



Obrigada, Ebookbr, pelo reconhecimento, gentileza e espaço para que pudesse falar um pouco mais do meu trabalho literário.

"Helena Frenzel tem um blog único dedicado ao escritor independente, foi quando tomamos conhecimento mais próximo que suas qualidades vieram à tona, é o primeiro lugar que temos notícia em que o escritor independente pode contar com uma editora no sentido intelectual da palavra, desta maneira, resolvermos conversar para destacar as qualidades e evidenciar sua singularidade no meio literário, assim como o papel desta ferramenta que é o ebook e o e-reader." Leia a entrevista completa aqui.



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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Sobre escrever ‘bem’




Escrever ‘bem’ não é SÓ uma questão de dominar a língua, não SÓ uma questão de adequação a um padrão gramatical. Não, claro que não. Escrever ‘bem’ tem muito mais a ver com transmitir idéias, propósitos, experiências, extravasar sentimentos, ter algo a dizer ou histórias para contar. E se a pessoa maneja a palavra de modo a fazer tudo isto de um jeito próprio e artístico, muito melhor, não? Que me desculpe quem discorda, mas mesmo tendo-a como secundária, não gosto de descuidar da forma, não me sinto bem ao fazê-lo, esforço-me para produzir algo que me seja ao menos agradável aos olhos e, conseqüentemente, aos olhos de quem vier a lê-lo. Outro ponto: quando se gosta de uma coisa, é natural que cuidemos dela, que promovamos o zelo. E essa é a minha relação com a língua portuguesa do Brasil, minha língua materna. Se eu não gosto de ver pessoas maltratando quem eu amo, também não me sinto confortável ao ver minha língua-mãe sendo maltratada a torto e a direito por aí. Por isso escrevo de vez em quando a respeito, pelo desleixo com a própria língua, pior ainda da parte de pessoas que, queiram ou não, servem de modelo para quem ainda está ‘aprendendo’ a escrever. Erros que há muito extrapolam os pequenos deslizes para cair na categoria de uma linguagem que ofende o leitor de tão crassa que é. Por isso, quando tenho de falar sobre um texto, geralmente porque pediram a minha opinião, já que não saio mais por aí dando pitaco a esmo, não posso fugir de cair numa das quatro categorias: fulano escreve bem e tem muito a dizer; fulano escreve bem, mas não tem muito a dizer; fulano escreve mal, mas tem muito a dizer; fulano escreve mal e não tem nada a dizer. E desta última categoria, se eu tiver mesmo de dizer algo, digo só para o fulano e se ele achar que serve, bem; senão... sigamos. Assim espero que as pessoas ajam comigo também. Nunca devemos nos esquecer de que ‘bom’ ou ‘ruim’ são avaliações subjetivas, o que não é 'bom' para mim, pode ser 'ótimo' para outras pessoas, e isso é perfeitamente normal. Considerando que fulano havia pedido uma opinião sincera sobre seus escritos, será que estaria lhe fazendo mal apontando o que poderia estar melhor? Será que cuidar um pouquinho mais da forma ou da linguagem é mesmo algo tão prejudicial? Não entendo certos melindres.





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