quarta-feira, 7 de agosto de 2013

PAPO DE ESCRITOR(ES) - I



“"(...) é preciso que o indivíduo não ceda às tendências egocêntricas e narcisistas (...)"*. E me pergunto por que certas coisas hoje são feitas de modo tão público. Os poetas do passado tinham, quando muito, só o recurso da correspondência e se valiam muito mais das vivências e conversações privadas, levava-se muito tempo para preparar uma única publicação. O fazer poético verdadeiro, na minha humilde visão, requer tempo, privacidade, silêncio, ruminação interior, um momento especial (será possível fazer poesia o tempo todo?). Mas as coisas mudam e o que agora vejo são esforços de adaptação ao 'fazer poético' em movimento, mas eu não sou literata nem pretendo tornar-me uma, sou apenas uma pessoa que gosta de ler. “

Mais tarde, completando:

“Estou chegando aos 40, se Deus me der mais 20 anos terei condições de arriscar uma classificação sobre os tempos atuais (risos). Que é a vez dos fragmentos e do tudo 'rapidinho', isto está bem claro, mas ainda nos resta algum poder de decisão, não sem sacrifícios. O poeta dificilmente vive no tempo da sua existência, mas isto não significa que viva em constante alienação, talvez (os poetas) sejam os únicos capazes de sobreviver a blecautes, que de tempos em tempos se dão.”

*citando trecho de e-mail de Marilú Duarte a Joaquim Moncks, publicado no status INDEPENDÊNCIA E MATURIDADE, de Joaquim Moncks no Facebook. Meu comentário aqui foi levemente modificado em relação ao original.

"Fazer literatura é muito mais do que buscar glamour. Fazer literatura é ousar, é saber ser diferente, é buscar a perfeição, é amar e conhecer intimamente o nosso idioma. O resto, se vier, é mera consequência."

Sergio Carmach, autor de Para Sempre Ana. O trecho é parte de uma de suas publicações no Facebook sobre o Dia do Escritor.

"(...) a escrita que ambiciona ser lida é como o envio de cartas a literatos desconhecidos. (...) se os gregos não tivessem mandado tantas cartas para o futuro, os romanos nunca teriam existido. Quem escreve, partilha sempre o que vê e aquilo com que se cruza. É certo que pode descrevê-lo de formas diversas mas fá-lo tendencialmente reinventando a realidade. O que não quer dizer que a nova realidade descrita seja menos real do que aquela que se quis reproduzir ficticiamente. Com efeito, na maioria dos casos, a ficção é apenas uma nova forma de construir a realidade, uma realidade moderna, porquanto é uma reconstrução do futuro pelo simples efeito de ter sofrido a intervenção de um interlocutor a jusante. " A Cidade dos Sete Mares, Victor Eustáquio, pg. 55

Para juntar ao papo, mais um atrevimento:
"(...) a realidade que pensamos percepcionar, a realidade física e tridimensional, reduz-se ao despotismo da sintaxe, à arbitrariedade das relações de concordância e dependência incondicionais; uma realidade possível em que cremos como certa pelas informações que nos são dadas pelos sentidos do corpo humano; uma realidade ancorada na disposição estrutural mais ou menos ordenada e harmoniosa, e igualmente funcional, de unidades, números, símbolos, como o sujeito e o predicado, na linguística, orações sintácticas, que tanto servem para as frases da linguagem como para as frases musicais.
Este é o mundo cacofónico em que vivemos ou que, pelo menos, julgamos viver. Por mais cantos e recantos que esquadrinhemos nas viagens que ao longo da vida vamos fazendo, na redoma doméstica, local, próxima, com a qual temos a inclinação de nos identificar mais facilmente, ou na aridez selvagem do globo terrestre, percorrendo um conjunto indeterminado de pontos distantes na imensidão intercontinental, não há forma de escapar. Nasce-se com a marca e com ela se coabita até ao fim: a marca que nos caracteriza como seres de mumificação lenta", in «A Cidade dos Sete Mares»

"Seres de mumificação lenta", adorei esta descrição desde a primeira leitura de A Cidade (sublinhei, claro). Abraços, Victor Eustaquio. Obrigada por enriquecer o 'papo'.

Estou lendo um romance em que um dos personagens principais, uma escritora, comenta esta mania que escritores têm de criar sempre uma história para 'embalar' tudo o que desejam contar e questiona-se por que é tão difícil dizer a verdade, por que não dizer, simplesmente, a verdade? Lógico que quem escreve sabe a resposta, pelo menos uma: todos precisamos de histórias, cobertores de ilusões.

Dia desses tomei um banho (tomo todos os dias, claro, mas desse dia recordo bem) e quando estava terminado notei que havia lavado o cabelo com sabonete líquido e ensaboado o corpo com xampu. Daí brotou a idéia para escrever Distraído. Hoje, agorinha mesmo, pensando no gato, aquele que mia ou que está miando em Português ou Alemão, ocorreu-me o mesmo: só notei que havia trocado os frascos na hora de enxaguar. O que será que vai nascer disso? Espero que tenha cabelos e uma boa história para contar. :-)

Mudando de assunto, para descontração:

Minha filha tem quase dois anos e outro dia tivemos o seguinte diálogo:
— Filha, mamãe te ama.
Ela só me olhou e eu continuei:
— Você nem sabe o que é amor, né filha? O que é amor?
— Lavar carro. — ela respondeu.

Para alguns não deixa de ser, não é mesmo? Acho que ela já compreendeu sim o que é 'amor'.

Sobre plágio, fico pensando: ao invés de perder um tempão tentando 'maquiar' idéias e frases alheias para parecerem outras, por que não investir tempo e energia para melhorar as próprias? Eu, hein?! Errar ao fazer os créditos devidamente, por engano, vá lá... mas copiar descaradamente e ainda assinar? Pena que a pariu, não?!