domingo, 21 de abril de 2013

Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra – Mia Couto


Foto: divulgação. Fonte: google. 



Queria agora ter mais tempo para escrever sobre este livro uma resenha, como ele merece; mas não tenho nem terei em breve: tempo. E para não correr o risco de ‘esquecer’ minhas impressões, registro aqui um comentário breve.
Esse romance de Mia Couto é uma viagem poética, perdi a conta de quantas passagens marquei. Em 260 páginas, Mia nos conta a história de dois Marianos e uma família, dois homens se explicando e buscando explicações um ao outro, ao rio, à terra, à família e a si mesmos, uma história de todos nós, perdidos que somos no céu de ser humano e no inferno de termos descoberto o ‘por quê’. Somos os únicos na Terra supostos capazes disso, se ilusão ou fato, nosso conhecimento limitado não nos permite saber.
Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra é poesia para pensar, um ensaio poético, se me permitem dizer. Pensar por poesia soa contraditório, porque o poeta muito pensa para fazer ao leitor sentido sentindo, mas poesia é sentido, também reflexão. E esse livro nos apresenta esse pedaço de terra chamada Luar do Chão, uma ilha no rio da vida, onde o sobrenatural se casa com o real maravilhoso na medida, sem fantásticos exageros, e a narrativa nos permite ir entrando pouco a pouco nas águas do rio, sentindo o corpo se adequar à nova temperatura sem temer perder o chão, firme.
O enredo se revela de modo natural e criativo e algumas partes não deixam de surpreender com as elegantes explicações, plausíveis para o universo poético-fictício de Luar do Chão, um pedaço desta África que o autor tão lindamente faz chegar a nós. “Os lugares não se encontram, constroem-se” e Luar do Chão é exatamente assim. Se tudo na realidade é construído, por que não na ficção? Li este livro vagarosamente, saboreando as frases e a competência literária do autor. Para quem deseja um mergulho tépido e prazeroso na magia da África e no lirismo do português de Moçambique, este livro é uma ótima opção. Recomendo.

sábado, 20 de abril de 2013

Desafio ‘Ler-diário’




A leitura me dá vida, e novas idéias para escrever. Mas antes da escrita, vem a leitura, sempre. Que tal agora mesmo pegar um livro qualquer, abrí-lo em uma página ao acaso, lê-la e compartilhar conosco aqui, rapidinho, um pouquinho do que leu?

Eu começo: "y el peor enemigo para la mujer que rompe moldes es la mujer conservadora". Historias de Mujeres, Rosa Montero, página 115 - falando sobre Alma Mahler.

Só vale se for um livro aberto e lido ao acaso, no ato, ok?

(Contribuição de Celêdian Assis):
Fragmento do conto MICRÔMEGAS - HISTÓRIA FILOSÓFICA; em Voltaire - Contos, p. 113, tradução de PROENÇA, D. R..Editora Nova Cultural - SP, 2002. Conversação do habitante de Sírio com o de Saturno: " - Se o amigo não fosse filósofo - respondeu Micrômegas - eu recearia angustiá-lo dizendo que a nossa vida é setecentas vezes mais longa que a sua. Mas também sabe que, quando somos obrigados a devolver o corpo aos elementos e tonificar a natureza sob outra forma (que é o que chamamos morrer), quando chega esse momento de metamorfose, ter vivido muitos anos ou um dia é exatamente a mesma coisa. (..) Mas existe em todos os lugares pessoas de bom senso, que sabem compreender e agradecer ao criador da natureza."

Obrigada, Celêdian Assis, amei a frase "ter vivido muitos anos ou um dia é exatamente a mesma coisa." Aqui vai mais um, de um livro do Mia Couto, que ontem acabei de ler mas ainda estou relendo no subconsciente: "A pobreza é andar rente ao chão, receoso não de pisar, mas de ser pisado". Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, Mia Couto, Companhia das Letras, página 197.

Sabem o que eu mais estou gostando nesta história? É que nesta brincadeira em menos de 15 minutinhos, redescobri pérolas na minha biblioteca, bem à mão, pérolas que eu já não lembrava ter tocado e re-toquei.

(Contribuição de Lucia Narbot):
Um trecho do livro Toda Poesia de Paulo Leminski: "caso alguma coisa me acontecer,/ informem a família,/ foi assim, tinha que ser/ ....

Do livro Auto-engano, de Eduardo Gianetti: "O passado e o futuro só podem ser concebidos a partir do presente; o próximo e o distante só se definem a partir de um ponto determinado; o alheio pressupõe e reflete o familiar."

(Helena Frenzel):
Ótimas contribuições, Lucia Narbot. Ótimas oportunidades para pensar a respeito do destino, do acaso, do tempo em todos os seus 'estados', das medidas e do que se supõe conhecer. Viram o que eu disse?! Viva ler!

(Contribuição de Heitor Herculano Dias):
Muita gente já conhece estes singelos versos de Vinícius de Moraes musicados por Chico Buarque, mas eles me tocam por demais;. Lembram-se desta melodia que tem o título de Valsinha?

"Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, para seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz"

(Helena Frenzel): É Heitor, que saudade do tempo em que a nossa música era música e poesia. Há exceções hoje em dia, mas é coisa rara... Valeu por sua ótima participação neste 'desafio literário'.

Sobre livros: "- No sea pendejo - me dijo - ,llévese todos y cuando acabe de leerlos nos vamos a buscarlos donde sea. Para mí eran una fortuna inconcebible que no me atreví a arriesgar sin tener siquiera un tugurio miserable donde guardarlos." Gabriel García Márquez, Vivir para contarla, páginas 370-371.

"A paleta social não é disposta ao acaso. E quem subscrever o contrário, só o faz para esconder no acaso tudo o que não compreende, como o infinito ou a insanidade". Trecho de A Cidade dos Sete Mares, Victor Eustáquio, página 7.

"Pareceram-me naturais as suas maneiras. Quero dizer com isso que não notei nelas a menor afetação." Charles Dickens, Grandes Esperanças, Tradução de Alceu Masson, Abril Cultural 1984, página 195.

"quem parte de um lugar tão pequeno, mesmo que volte, nunca retorna". Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, Mia Couto, pág. 45.




(Este espaço está reservado para a sua contribuição. Leia, deguste o que leu e participe).

terça-feira, 16 de abril de 2013

terça-feira, 9 de abril de 2013

Sobre cooperar


Tela minha.

“Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. (...) Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.” (Eclesiastes 4.9-12).

Cooperação é algo em que acredito deveras. Antes de começar um projeto solo, sempre dou uma olhadinha nos vizinhos para ver se alguém está indo na mesma direção e verifico as possibilidades de cooperar. Porta na cara foi o que levei várias vezes no Brasil, porque as pessoas, ao que parece, desconfiam de quem busca cooperação. Essa mentalidade mesquinha de querer levar vantagem em tudo está mais arraigada em certas sociedades do que seus membros queiram admitir ou possam imaginar. E por estarem centradas na competição, no lucro, em serem os melhores ou primeiros, boas oportunidades acabam se perdendo e o que é pior: muitos deixam de ser beneficiados pelos frutos da cooperação. Quando idealizei o Quinze Contos, fui motivada pela riqueza dos frutos que nascem do cooperar. Diversidade é a palavra, cooperação é o caminho, e acesso sem restrições, livre e gratuito, a livros para quem desejar é um sonho meu. Certa vez ouvi de uma pessoa que poucos valorizam o que se oferece de graça no Brasil. É questão de mentalidade e eu sei que essa pessoa não deixa de ter razão. Onde vivo, por exemplo, as pessoas estão tão acostumadas a doar um pouco do seu conhecimento que muitos buscam meios de oferecer serviços gratuitamente ou a preço simbólico, principalmente se há um objetivo cultural ou educativo por trás. Por exemplo: concertos, leituras, palestras, oficinas e cursos para adultos e crianças. Quem tem algum conhecimento ou experiência e quer compartilhar, logo busca juntar esforços. Tudo bem que a Alemanha é um país rico, mas a sua riqueza não penso que esteja só nas exportações, e sim no grande investimento que é feito (ou que foi feito no passado) para a formação e instrução dos cidadãos. Aqui, só não estuda quem não quer, pois oportunidade eu vejo para todos que se esforçam para tal. Por conta disso, há muitos profissionais que, nas horas vagas, por puro idealismo, estão muito dispostos a cooperar -- eu, por exemplo. Sinto que há outros mundos possíveis fora desses modelos de pseudo-socialismo ou capitalismo que transformam muitos em canibais, principalmente os riquíssimos sonegadores de impostos do mundo inteiro que muito ganham com ‘crises’ e guerras, sem a mínima culpa por destruírem o planeta e as vidas das pessoas. Esses ‘ricos’ são relativamente poucos mas concentram a maior parte do dinheiro que dita as regras do mundo e em todos os continentes se pode encontrar. A desgraça dos pobres são as elites estúpidas locais. Infelizmente não conheço essa alternativa ao egoísmo capitalista ou ao pseudo-socialismo; se eu conhecesse, teria o Nobel. Sou apenas uma formiga mediana que paga impostos, observa a vida e já aprendeu que as coisas não são fáceis, cujas antenas sinalizam: a via é cooperar.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Imaginar é poder


Tela minha :-)


"I believe in intuition and inspiration. … At times I feel certain I am right while not knowing the reason. When the eclipse of 1919 confirmed my intuition, I was not in the least surprised. In fact I would have been astonished had it turned out otherwise. Imagination is more important than knowledge. For knowledge is limited, whereas imagination embraces the entire world, stimulating progress, giving birth to evolution. It is, strictly speaking, a real factor in scientific research."
Cosmic Religion : With Other Opinions and Aphorisms (1931) by Albert Einstein, p. 97

Fonte:

Tradução livre, feita por mim (não sou expert em Inglês):

“Eu acredito em intuição e inspiração... Às vezes eu tenho certeza que estou certo, mas não sei a razão. Quando o eclipse de 1919 confirmou minha intuição, eu não tive a menor surpresa. De fato, eu teria ficado muito surpreso se tivesse sido o contrário. Imaginação é mais importante do que conhecimento. Pois o conhecimento é limitado, enquanto a imaginação abrange o mundo inteiro, estimulando progresso, gerando evolução. Ela é, estritamente falando, um fator real na pesquisa científica.”


Por isso eu carrego a ‘certeza’ de que por trás de um grande cientista está, sempre, um grande contador de histórias. Contar não é preciso, preciso é imaginar. Salve, Fernando, salve!