segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Engrenagens




Peças. Grandes conseqüências, pequenas ações: tal relação nunca deixa de me impressionar. Sem saber ou estar querendo podemos impulsionar mudanças nas vidas das pessoas, interferindo em suas decisões. Pois assim uma ‘achegada’ conta: que se hoje vive na Alemanha deve a algo que um dia eu lhe falei. Eu digo que é exagero e agora explico: quando nos conhecemos, ela estava atordoada com a língua ‘y otras cositas más’, perdida na confusão que toda fase de adaptação traz. Descendente de alemães nascida no Brasil, ela havia já feito visitas e até intercâmbio nas terras de Teutates, mas língua é justa e manhosa: não usou, enferruja, só aparece quando a necessidade está e permanece. Se as crianças, que são crianças, precisam de uns três anos para dominar relativamente as que ouvem todos os dias, imagine alguém passado dos trinta que só ouviu CDs e fez umas aulas de quando em vez para refrescar?! Pense! Ela falou: vou voltar para o Brasil e aprender Alemão primeiro, depois volto para cá. Ao que eu comentei: Pô, você está na Alemanha e quer aprender Alemão no Brasil?! Não faz sentido... Pronto! Deu-lhe um estalo no cascalho e de lá para cá, ela conta, sua vida começou a mudar. Na tempestade de areia fechamos os olhos, e com olhos fechados o óbvio é difícil ver. Ajudei-a a encontrar um curso de línguas, ela logo arrumou apartamento, amigos e do resto a vida se encarregou. Hoje ela trabalha para uma multinacional, tem vida própria e está bem. Outro dia ela veio de visita e recordamos esse começo. Com ou sem exagero, fui uma peça nas engrenagens de sua vida, assim como uma peça-chave na minha fez-me alterar hoje cedo a foto do meu perfil. O que é corriqueiro para muita gente, para mim foi um importante marco: uma nova etapa começou. 



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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Para que eu me lembre como foi





Não sou muito fã de blogs pessoais, admito. No entanto, alguns são muito bons, bem escritos, o autor ou a autora já passou por tantas e tantos e tem ótimas histórias para contar. Desde 1995 venho usando a Internet e sempre mantive sites, porém mais voltados para o trabalho, o que me interessa mais. Em 2005, passando por uma crise, voltei a escrever, mas só para mim mesma, buscando chão. Nessa época redescobri a escrita como terapia, pois há muito tempo não escrevia quase nada pessoal, nem cartas. Daí um amigo me disse: "Por que você não cria um blog?". Também contou-me que, numa crise, saíra um dia navegando sem destino e parara num desses blogs pessoais. A autora vivia situação semelhante à dele e seus textos trouxeram-lhe consolo, alívio e um novo olhar. Lógico que como “homem que é homem não chora” essa autora não recebeu dele sequer um “muito obrigado” porque “macho que é macho não lê blogs desse tipo" e muito menos sai por aí "se emocionando" com o que lê. Daí pensei: se minha experiência puder ser útil a mais alguém além de mim mesma, tenho um bom motivo para criar um blog, não é mesmo? Porém, segui ocupando-me com coisas mais importantes até que em 2008 meu mundo caiu outra vez: novas marcas, novo marco, um dos maiores até aqui. Para ajudar-me a juntar os cacos surgiu o Blog da Helena, contudo minha experiência com textos pessoais não perdurou e o Blog da Helena abriu alas para o Bluemaedel passar, revelando-me a literatura e as artes como os medicamentos mais eficazes desde que o ser humano aprendeu a rabiscar. Analisando meus textos, não sei se tenho conseguido fugir dos contornos do próprio umbigo, mas a escrita tem me permitido cada vez mais ‘sair do couro’, ‘ser’ muitos e assumir vários papéis, os mais exóticos e alheios. Ou estaria eu enganada, já que enorme é o apelo e deliciosa a tentação dos relatos pessoais? Muito depende de como se conta uma história, não é mesmo? Meu caso com o Bluemaedel tem me mostrado que parece ser possível, sim, falar da vida sem exposições desnecessárias e o que é melhor: compartilhar. 

PORÉM, e que isto fique BEM CLARO: nada disto seria possível sem a participação dos leitores que, com seus valiosos comentários, ajudaram este blog e a letripulista a chegarem onde chegou. E este 'textículo', além de contar um pouco desta história, é para expressar aos fiéis leitores e leitoras minha enorme gratidão: Muito Obrigada!






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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Pedaços de Possibilidade



Imagem obtida no site da autora Maurem Kayna na Amazon. Aqui usada somente para divulgar o trabalho.


Em Navegação de Cabotagem, Jorge Amado conta que tendo terminado a leitura dos originais de Caetés viu-se tomado por tamanho entusiasmo que decidiu viajar até a cidade do ficcionista só para comunicar-lhe, de viva voz, sua admiração. Tratava-se de Graciliano Ramos, ainda desconhecido, e Jorge tinha então 21 anos incompletos, e acabara de publicar Cacau. Senti ardor semelhante ao ler Pedaços de Possibilidade, primeiro livro de contos de Maurem Kayna. Não porque se trate de algo novíssimo na literatura brasileira, nova proposta estética ou coisa tal, e sim por tratar-se de publicação independente e ser um livro de muito boa qualidade, muito agradável de se ler. Gostei de todos os contos, quatorze ao todo, e por oito deles senti-me arrebatar. Explico:

Além das várias possibilidades nos contos, vi nesse pequeno livro muitos pedaços de boa literatura, medida nas solas de grandes contistas, claro, porém original; o domínio de técnicas narrativas, perspectiva, cuidado com enredos, pontos em que a realidade se enrosca à fantasia (será?!) de outras dimensões, como em certos contos de Julio Cortázar, autor cuja obra me fascina. Algumas descrições de cenas e personagens são de leveza quase poética e revelam uma autora preocupada com frases e fuga de clichês. O primeiro conto, Verão, que não está entre aqueles que me arrebataram, serviu-me de promessa às surpresas que se concretizaram depois. O primeiro conto talvez tenha sido uma oportunidade dada ao leitor de acostumar-se ao estilo das narrativas, estimulá-lo com requinte a mergulhar nas entrelinhas, e servir como entrada bem escolhida antes do prato principal. Degustei cada pedaço, com muito prazer. 

E para finalizar este relato de meu primeiro encontro com esse livro, deixo aqui um pedaço do Pedaços para você provar: 
A descoberta fez a aproximação reciprocamente bem aceita: escutei-a com o mesmo gosto de quem escolhe a sinfonia adequada à sazonalidade que lhe vai ao peito.” 
Será exagero? Confira você mesmo. Pedaços de Possibilidade, de Maurem Kayna: recomendo.




Ficha
Título: Pedaços de Possibilidade (e-book, 2010, editora Simplíssimo)
Autora: Maurem Kayna
Disponível na Amazon e na Bookess (leitura grátis)



Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Favor informar o nome da autora. Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

sábado, 6 de outubro de 2012

Tudo Estória!




Li uma história da @rroba lembrando da recepção de A Divina Comédia de Alighieri Dante e fiquei pensando o quanto é fácil usar um texto supostamente confiável para induzir ao erro e à desinformação. Fiquei pensando que nem todo mundo tem a idéia ou condições de checar fatos e dados e quando os acontecimentos aparecem bem organizados e explicados tem-se a imagem de que a história é real e acaba virando mesmo História natural  passada e repassada, compartilhada ao longo dos séculos e gerações até que apareça um chato ou chata com colhões para questionar o texto e o tempo, e com muito tempo disponível e recursos para criar casos com terceiros. Às vezes me pergunto se algum tipo de Iluminismo já se acendeu em certos becos. Sou tentada a crer que de fato é bosta e um KKKKK fecharia bem a história e a História com razão, pois de estórias ninguém fala e bem poucos sabem contá-las: verdade ou ficção.




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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Duas ou uma só?





Sabe esses dias em que você acorda meio grogue porque não dormiu direito ou porque bebeu demais? Pois bem, nesse estado em que os neurônios parecem estar bringando, não porque eu tenha bebido, mas pelo sono que eu perdi, voltava eu de um passeio matinal, num tete-a-tete com o ar puro frio quando olho à minha frente e vejo se aproximar um carrinho, um carro só, só que com duas motoristas, digo: duplicadas louras vestidas de preto, uma no lugar do carona e a outra no volante. Êh-êh: já viu meu aperreio nessa hora, não é mesmo? Duvidar da própria sanidade é ainda bom sinal e nisso eu pensava quando vi o carro se afastando e caí na real: eram gêmeas, dessas que usam o mesmo modelito e penteado igual só pra confundir. Ufa!, meus neurônios se acalmaram. Voltei pra casa bem mais acordada, de conluio com meus botões e pensando no dia de hoje em que se comemora a reunificação da Alemanha, que um dia já foi muitas e hoje é uma só. Mesmo?! Fato é que eu jamais terei por claro se o que eu tive hoje cedo foi um sonho, a visão de uma dupla ou uma dupla visão. Quem garante? Meus neurônios? Esses, eu bem sei que não.





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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Escolha





"Quem luta pode perder; quem não luta já foi vencido."



Tradução livre da frase „Wer kämpft, kann verlieren. Wer nicht kämpft, hat schon verloren.“, atribuída a Bertolt Brecht.




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