quinta-feira, 30 de agosto de 2012

De Graça


Foto: HFrenzel 2012


Comumente estranhamos quando nos oferecem algo gratuito e logo pensamos que há interesses escusos por trás. Se, para existir, todo projeto fosse movido a interesses financeiros, não teriam inventado o Linux e os computadores, nem mesmo a Internet. Por vezes, somos roídos por uma idéia que apoquenta até que sentamos para implementar. Foi assim com o 15 CONTOS+, uma série anual voltada para a divulgação de autores novos e contos selecionados. Ter uma idéia não é problema, difícil é realizá-la, mas com trabalho e organização se consegue tudo, e ao ver o projeto tomando corpo, sinto-me como se estivesse prestes a dar à luz um bebê. Se bem que meu trabalho com este projeto não pode ser comparado a um parto, pois até agora só tenho tido prazer e a sorte de poder contar com participações tão especiais. E aos  meus parceiros sou muito grata, grata de todo o coração. E o que eu ganho com isso? Experiência, por certo; quem sabe leitores, amigos e muito mais satisfação. De graça, nem injeção na testa?! De graça, o nosso melhor.



Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Favor informar o nome da autora. Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

sábado, 25 de agosto de 2012

Bluemaedel no Face




Esta semana, abri uma conta no Facebook; a contragosto, claro, mas tive que fazê-lo. Queria ter acesso a certas coisas que estão lá dentro e divulgar mais o meu trabalho, coisa imprescindível pra quem só publica na Internet, como eu. Quando comecei a escrever no Bluemaedel, entre 2007 e 2008, eu não tinha nenhuma pretensão literária. Daí comecei a fazer cursos na área, fui me interessando cada vez mais pela arte e, aos poucos, fui vendo minha escrita e propósitos se transformarem. E se antes eu não pensava tanto num público, agora tenho que pensar mais. Escrever é bom, o chato é ter que divulgar o que se escreve e como Isabel Allende gosta de declarar: no me gusta hacer gira de libros. O escritor que faz tudo sozinho - cria, edita, revisa e publica - tem que também passar pela prova da divulgação. Daí a necessidade das mídias sociais. Por outro lado, sociabilidade em demasia pode pôr a arte em risco: quanto mais introspectivo o autor, melhor é sua escrita, ou seja, tudo tem que se balancear, meu escritor interno é um ermitão convicto e eu não posso querer mudá-lo, sob pena de não ter mais razão para escrever. Bom, é isso! E já que não posso abrir mão das mídias sociais, tentarei aproveitá-las o melhor. Vamos ver se consigo!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Sem Vergonha de Contar - Divulgação


Saiu!!!


Você tem vergonha de seus 'causos'? Nós não! SEM VERGONHA DE CONTAR é o novo espaço para contos e causos das escritoras Helena Frenzel e Michele Calliari Marchese. Confira, visite! O primeiro 'causo' já está no ar...



Um abraço fraterno, inté!

domingo, 19 de agosto de 2012

A Companheira



É que no trabalho eu tenho que levantar um portão pesado como o diabo! Dizem que o diabo pesa; se é de maldade ou são os chifres, disso não sei não. Só sei que há meses eu vinha me queixando dessa dor mas nada do chefe me liberar. Vim assim mesmo. Me operaram e acharam um caroço do tamanho de uma moeda de 1 Real; era benigno. Agora que eu vim ele está zangado, mas tanto faz! Cinco Sextas-Feiras-Santas mais e posso me aposentar. Se quiser me mandar embora vai ter que pagar caro. Nem seria pouco pra ele, que eu sei. E eu nunca faltei, nem nunca fiquei doente, essa foi a primeira vez. Trabalho com montadores, sabe, homens, peões. Por isso meu marido outro dia me disse que já está em tempo de eu deixar esse trabalho, antes que ele me embruteça demais. Não lhe dei ouvidos. Aliás, não ouço ninguém, nem mamãe. Espere aí que vou atender ao telefone. Scherer! Ah, bom dia! Sim, me operaram ontem e tiraram um caroço do tamanho de... Era mamãe. Já disse ao meu marido que ele não pode me matar nem dar sumiço, mamãe não passa um dia sem me ligar e já estava preocupada. É que só ontem à noite me liberaram o telefone,  você sabe. Vi que gosta de contos. Prestei atenção no que estava lendo ontem quando vieram me visitar. A que veio à tarde é minha filha. Meu marido e a netinha vieram depois. Uma graça, não é verdade? Toda noite jogamos cartas após o jantar: buraco, mau-mau, essas coisas. Ah, telefone outra vez, deixa eu ver quem é. Scherer! Ah, isso mesmo, ontem me passaram uma faca e tiraram uma moeda de 1 Real. Prata não, de ouro... Minha companheira de quarto é um anjo, tão boazinha, a qualquer momento parece que vai voar... Era a minha irmã que mora na Suiça com a família e todos quiseram falar. Nossa família é bem unida, sabe, na próxima semana é aniversário de mamãe e virão todos: 90 anos! Espero que até lá eu já tenha tido alta. Telefone outra vez! Quem será? Scherer! Sim, ainda aqui. Abriram minha barriga e acharam 1 Real. Se eu havia comido? Não, só um caroço, e benigno, tudo culpa do portão. É,  agora ele vai ter que contratar mais alguém, muquirana... Colegas de trabalho, todos querem saber de mim. Sou muito querida, sabe, não sei o que meu chefe fará sem mim nas próximas semanas. Não fosse aquele portão pesado como o diabo, há meses vinha sentindo dor, já lhe disse. Ah, quando o médico vier de novo vou perguntar quando terei alta também;  e essa dor que não passa! – tossiu um pouco – Atingiram minhas cordas vocais com a anestesia geral, os tubos. Incomoda se eu ligar a TV? Não, essa janela lhe distrai muito. Não sou de ver TV, prefiro livro, se bem que esse que eu trouxe aí ainda não tive tempo de pegar pra ler. Ah, e trouxe uma lã nova também, um cachecol que estou fazendo para o bazar do Natal. Bonita, né? E vai ficar bonito pronto. As turcas já usam esta lã há muito tempo, é rapidinho enquanto se tece um cachecol. Ah, eu adoro bolsas! Tenho de tudo em quanto é tamanho e cor, combinando com os sapatos, claro. E os lenços, nem lhe falo: estive em Roma e comprei muitos, para alegria dos ambulantes locais. Fui com as mulheres católicas da Ordem do Coração de Jesus. Sim, mas de que mesmo lhe operaram? Pelo visto não está com dor como eu, nem posso me mexer, ai. E minha filha recebeu benção do Papa, já lhe disse? 
Neste momento entra no quarto a enfermeira do plantão; o estado da paciente da cama ao lado da janela rendeu intensos minutos, reticências e várias interrogações. Não adiantou muita coisa, ela não pôde ser reanimada. Estava morta há duas horas mais ou menos, poucos minutos após ter sido autorizada a deixar o hospital.

Aqui, um áudio para este texto.


Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Favor informar o nome da autora. Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Observem as Tartarugas!

Foto: HFrenzel 2012


Uns pensam em flores e eu, nas tartarugas, nos escritos, nas paixões. Penso também em críticas e seus efeitos e em quando não sei o que dizer; nesses casos, além de calar-me, observo a natureza e trato de ouvir o que ela tem a ensinar: tartarugas só avançam quando arriscam o pescoço e oficinas de escritores são cantos ótimos para se ficar, mas não a vida inteira, só brincando, aquecendo letras num aconchegante casco amador. Mesmo devagarinho, com medo do risco de me perder (ou de me achar) aceito o desafio de escrever em diário ou jornal. Sejam contos, sejam crônicas, artigos que nada queiram dizer, contanto que sejam diferentes de tudo o que já publiquei, pois isso é o que move a pena se a alma não é pequena e ainda resta papel. E com o pescoço estendido, minha primeira crônica para o jornal aqui publico e só peço exatidão a quem quiser cortar.

Crônica originalmente publicada no BVIW. Confira os outros textos e os comentários da rodada "Minha Crônica no Jornal" aqui!

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Favor informar o nome da autora. Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Só quem viveu sabe o que foi



Na fotografia estamos felizes”, diz Bethania naquela canção. E havendo estado em companhia do artista preferido, “ali no gargarejo jogando beijo” ou por trás de todos na última fila, que fã não ligaria afobado pros amigos pra contar? Não sem antes ligar o som e passar horas tatuando nos poros os momentos dourados que ali viveu, pois “há sempre uma canção para contar aquela velha história de um desejo que todas as canções têm pra contar”. Mais duram as lembranças fora da memória, presas num objeto qualquer: camiseta, foto ou caneco, nas entradas que se pagou. E quem condenará um fã de carteirinha por ter sempre à mão uma prova do desejo que realizou? Sonho é sonho, cada um tem os seus; por mais ridículos que pareçam, respeite-os. Em se tratando de um sonho, só quem viveu sabe o que foi.


Neste texto foram usados - para fins de homenagem - trechos das canções Anos Dourados (Tom Jobim, Chico Buarque), Fã Número 1 (Guilherme Arantes) e Fotografia (Tom Jobim).


Crônica originalmente publicada no BVIW. Confira os outros textos e os comentários da rodada "Fãs da Madonna" aqui!

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Favor informar o nome da autora. Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Comunicado


Caro(a) Leitor(a),


Como dizia a mãe do Forest Gump: "A vida é como uma caixa de bombons - você nunca sabe o que vem dentro!", fui sorteada para passar alguns dias descansando... num hospital! Férias mesmo, programadas e tal, vou aproveitar para escrever, quem sabe até mandar um postal. Pois bem, enquanto estiver ausente, estará ativa a opção de moderação de comentários; depois retorno à configuração atual, sim?!


Bom, muito grata pelas leituras, contatos e eventuais comentários neste período.


No mais, tudo de bom.


Um abraço fraterno, inté!

sábado, 11 de agosto de 2012

Pagam os outros e as futuras gerações


Aqui fiz, aqui pago? A coisa não é bem assim. Uns fazem o que fazem, no final se matam e deixam a dívida pra quem fica ter que pagar. A História está cheia de exemplos típicos, e o cotidiano também. Ricos sonegadores de impostos são sempre os primeiros a deixarem o barco quando este naufraga. Grandes criminosos e políticos corruptos nem sonham com uma possível punição, nem nesta nem numa outra vida e não adianta torcermos ou agirmos para que se dêem muito mal; continuam por cima, no poder. Pois é, a vida às vezes nos obriga a agir de boa fé, dando crédito a quem não merece, e depois nos virando para pagar a dívida que ficou. Muitos querem crescer sem pagar pelo futuro do planeta, certos de que, no final, quem pagará o pato serão os outros e as futuras gerações. Aqui se faz, aqui se paga? Não creio muito nisto. Mais certo seria “Se devo, nem me preocupo, sei que outros vão pagar!” Pensamento político? Pode crer!

Crônica originalmente publicada no BVIW. Confira os outros textos e os comentários da rodada "Aqui fiz, aqui pago" aqui!



Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Favor informar o nome da autora. Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

NÃO!




Essa palavrinha dá o que falar! Uns não sabem o que significa, outros não sabem dizer e há ainda os que a entendem como "sim" ou "talvez". De todo modo, nenhuma palavra tem que ser a última - sempre resta um "por quê?". Que eu não poderia engravidar, disse-me um médico certa vez, certo. Anos depois, amamentava minha filha e pensava no "não" e suas certezas. Agora, o desafio é fazê-la compreender que "não" é NÃO e todo mundo precisa dele. Ela é ainda muito pequena, mas não penso em desistir de ensinar-lhe o significado da palavra mais sufocada pelas novas gerações. Crianças que crescem se achando o máximo e pensam que, como seus pais, o mundo é seu capacho tornam-se pessoas incapazes de lidar com os outros e com as próprias frustrações. Antes, quando uma criança ia mal na escola, a culpa era só dela. Hoje em dia, a culpa é dos pais, da escola, dos professores, da vizinha, do governo e de todos, menos da criança que não senta pra estudar. E por falar em "não", precisamos reinventá-lo, você não acha? Senão, onde iremos parar? 


Crônica originalmente publicada no BVIW. Confira os outros dois textos e os ótimos comentários da rodada aqui!





Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Favor informar o nome da autora. Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.