sábado, 4 de junho de 2011

Liberdade Virtual


Será que políticos temem mesmo movimentos virtuais? Bom seria se temessem, mas tenho minhas dúvidas cá, ainda mais em países em que ‘punição’ é coisa rara. Aliás, seriam políticos ainda capazes de se constranger?

Cidadãos do mundo inteiro têm, na rede, uma forma de criticar e impor a participação nas decisões políticas, queiram os governos ou não. E isso se deve, boa parte, ao fenômeno das redes sociais. Dentre movimentos que partiram da esfera virtual, dizem os jornais, estão as revoltas em cadeia no mundo árabe, o povo indo às ruas — na Grécia, Espanha e Portugal, por exemplo —, protestos contra os desmandos de seus governos, contra o sistema financeiro atual, no qual avaliações duvidosas podem destruir num dia a estrutura de todo um país.

Alías, no tocante a crises financeiras, rola à boca pequena que três grandes grupos americanos estariam empenhados em acabar com a União Européia, país por país, num efeito dominó. Soa a teoria conspiratória, mas não duvido de nada. Basta a palavra de um só ‘poderoso’ para abalar a credibilidade financeira de todo um país, ou vários, e isso o mundo já viu passar.

Socialistas perderam as eleições na Espanha, alguns ditadores árabes estão na corda bamba, protestos na Grécia e em Portugal não saíram ainda da pauta dos jornais. E no Brasil, é político tendo que explicar origem duvidosa de patrimônio e é a greve dos professores, que não sei em que pé está, e depois de ver a repercussão do depoimento da professora Amanda Gurgel (1) espero que tenha um bom resultado desta vez. Desde pequena, vejo e ouço falar em greve de professores brasileiros. Já sofri com várias delas e eles têm todo o direito de reclamar! As reivindicações são quase sempre as mesmas. Entra governo, sai governo e quase nada muda. Será diferente desta vez? Espero que sim.

Tenho a impressão de que as pessoas estão iradas, cansadas de sempre terem que pagar a conta das más administrações, de sustentar políticos que não têm uma mínima noção do que é responsabilidade fiscal, social, o que seja, e ainda debocham dos cidadãos que lhes pagam altos salários pela ‘diz-que’ representação.

Como disse um colunista da Folha de São Paulo (2), embora num outro contexto, em tempos de tanta interatividade o cala a boca já morreu. A exemplo da censura que ocorre na China e no Iran, a pergunta que me ocorre agora é: até que ponto permitirão a continuidade desta nossa imensa liberdade virtual? Como será que tentarão restringí-la, desacreditá-la, torná-la banal?

Fazer com que compremos a idéia de que protestos não levam a nada ou a de que certas campanhas ficam mesmo só no virtual já seria uma estratégia, não?




(1) Folha Online – 23/05/2011

(2) Luiz Caversan - Cala boca já morreu – 21.05.2011 – Folha Online





---------------------------------------------------------------------
Não sigo o novo acordo ortográfico em Língua Portuguesa. Se deseja reproduzir este texto, no todo ou em parte, favor respeitar a licença de uso e os direitos autorais. Muito obrigada.
Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 03/06/2011
Código do texto: T3011376




Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Favor informar o nome da autora. Para ter acesso a conteúdo atual aconselha-se, ao invés de reproduzir, usar um link para o texto original). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.