quinta-feira, 9 de junho de 2011

Crendo ou não, cuidado com a 'midivisão'


Já ouvi de muitos: quem muito vê TV fica doido. E eu vi, com esses olhos que a Terra há de comer, não sei, se eu antes não mandar cremar, é que ainda não me decidi por um plano; se bem que cinzas é bem mais prático que uma cova com caixão, e fede menos. E de escolher nos pouparão a todos se a Terra vier, logo, a virar pó; em breve que digo, ainda nesta nossa geração. Planos pra lá, o que vi foi uma senhora ir perdendo o juízo, pouco a pouco, de tanto que passava o dia em frente à televisão (ligada, claro, com mais de não sei quantos canais), e foi passando a crer em todos os especialistas, teorias e profetas que lá habitam, o mundo da in-Formação, entretenimento, manipulação sem fim. Interessante era observar como ela mudava de hábitos e opiniões de acordo com o ‘trend’ do momento. Houve uma época em que, como tudo causava câncer, passou a não querer comer mais, só aceitando infusões e, por vezes, luz do sol, que não podia ser em excesso por causa da radiação. Depois vieram os complôs de espionagem, as viroses, pestes, os surtos de bactérias e as crenças, a fase pior. Todos os dias uma igreja diferente anunciava o fim do mundo e a urgência da conversão, e ela acreditava em tudo: visões, aparições, encostos, milagres, curas, e num sincretismo de dar inveja a qualquer constelação cultural. Crer não é problema, problema é militar, ou ‘proselitar’, digo. Se essa palavra não existia, acabei de inventar, e que saiba o leitor que tem a ver com proselitismo, encher o saco e aliciar os outros. Era um saco sem fundo ter que ficar ouvindo-a por horas a fio falar sobre tudo o que dizia crer e, pior ainda, tentando converter paredes e outros ouvidos, que remédio outro não tinham senão ouví-la. Meu Deus, é que matar um ser humano, dizem, além de pecado é imoral, é atentar contra o direito básico, e de todos, de respirar, isso pelo menos. Daí que, seguindo o conselho de um senhor já há mais de 50 anos casado: “Fazer de conta que não se ouve é o que faz um casamento durar”. E assim mesmo faziam as pobres vitimas daquela ‘mítima’, vitima da mídia e da televisão. E olhe que ela durou! Não querendo ficar doido, leitor, cuidado com a ‘midivisão’. Nos dias de hoje não é o amor que está no ar, e sim informações, e em rede, onde tudo pode ser manipulado. Guerras estão rolando há anos na Internet, e se eu não havia lhe dito antes, foi pra não lhe influenciar. Julgue você mesmo.



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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 08/06/2011
Código do texto: T3021216




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