sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sobre escrever?! Pelamordedeus!! - Comentário Emocional


Sonhei: conversava com alguém que queria saber por que gosto de escrever e acordei com a resposta ainda fresca. Calma, leitor, vou poupá-lo da agonia; pelo menos neste texto, juro!, não discorrerei sobre escrita ou processo de escrever. Chega já tantos metatextos, não? E clamas pelo efeito, o produto final, que eu sei, um conto, livro, um romance, qualquer texto diferente desses que agora imperam no mundo online. Cada um que leia e escreva o que quiser, claro, mas, como leitora à moda antiga, sem pena gasto tempo com qualquer livro que saiba me prender, independente de volume, e isto fez comigo Memorial do Convento, de José Saramago, livro que acabei de ler.

Cegueira e vista: tema comum na Literatura e que na obra de Saramago não podia faltar, tema principal em Ensaio Sobre a Cegueira, que li há muito tempo, e um dos tantos em Memorial. Aliás, em Memorial, adorei os personagens com B, diferente de em Ensaio, onde os personagens não têm, propriamente, nomes ou alcunhas, só características. Entendi ambos como fábulas modernas que podem caber em qualquer lugar deste nosso mundo louco, embora em Memorial a história se passe, explicitamente, em Portugal.

A linguagem de Saramago não é para inexperientes, arrisco-me a dizer, e sei que corro perigo de me julgarem pedante, nada mais o preço por pensar e dizer, não? É fascinante perceber sua beleza, fluidez e, paradoxalmente, simplicidade, linguagem simples para quem aprendeu a ler fazendo estripulias com palavras da língua portuguesa, coisas que inexperientes talvez não sejam capazes de, facilmente, perceber.

Tanto Memorial como Ensaio li no original, mas confesso que fiquei curiosa para ver uma tradução, por certo um desafio. Vou fuçar numa biblioteca daqui. E Saramago eu sei que há, falo de seus livros. Já encontrei Machado e Rubem Fonseca. Paulo Coelho, esse não me interessa não, mas, por incrível que pareça, autor contemporâneo mais fácil de se encontrar por cá. Talvez eu escreva um comentário emocional sobre Memorial e Ensaio antes do meu recesso, mas, por enquanto, deixo apenas as primeiras sensações: ambos são 10!, recomendo ler. E após ler o primeiro, Memorial, fiquei me perguntando onde teria ido parar minha vontade, principalmente a de escrever, e, que forma ela teria: a mesma de nuvem, talvez. Não da vontade de escrever textos diversos, falo, porém daqueles chatos, sobre o processo de escrever. Já chega, não?


Lembrando: a quem discordar, respeito, seja pelo que for. Antes de polêmicas ou discussões, com este texto quis brincar e informar, pela vontade, e pelo prazer. Só!




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Não sigo o novo acordo ortográfico em Língua Portuguesa. Se deseja reproduzir este texto, no todo ou em parte, favor respeitar a licença de uso e os direitos autorais. Muito obrigada.


Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 09/06/2011
Código do texto: T3023914




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Recordar para Viver - Mais e Melhor!


Houve uma época em que eu podia dedicar-me um dia por semana a atividades voluntárias, então passei a visitar um asilo da Cáritas. Muitas coisas pude ver, um tipo de creche para pessoas idosas que não podiam mais ficar sozinhas em casa. Pela manhã, passava um carro apanhando os velhinhos e, à tardinha, ia-os deixar, ou vinha algum parente buscá-los. Lendo um artigo sobre demências e Alzheimer, lembrei-me de minha reação quando encontrei, neste asilo, uma senhora miudinha que muito me chamou a atenção. Doutora duas vezes havia sido, catedrática em Filosofia também, e agora ali, sentada a uma mesa com uma esferográfica na mão, rabiscando jornais e revistas como fazem jovens pequeninos na Pré-Escola, com a sutil diferença de que nem mais do próprio nome conseguia recordar. Aquela imagem me chocou. Fiquei pensando sobre a vida, as voltas que ela dá, e como cada um de nós se acaba. Naquela senhora magrinha, miñon, cabelos brancos e ralos, não se via vestígio do passado que uma enfermeira acabara de me contar. Pela gravidade da doença, esta senhora vivia no asilo, não pertencia mais ao grupo dos que vinham, passavam o dia e voltavam para casa no final. E no jornal de hoje, encontrei algumas dicas para retardar o Alzheimer que, mais cedo ou mais tarde, quanto mais um ser humano consiga viver, dizem os especialistas, maior é a probabilidade de que acabará desenvolvendo. Ler, escrever, conversar interessadamente com pessoas, fazer cursos, exercitar o corpo e estar sempre tentando aprender coisas novas mantêm o cérebro ativo e podem ajudar a retardar o aparecimento das demências. Ocupar-se com música, poesia (escrevendo ou decorando versos), tentar lembrar-se de números de telefone ao invés de consultar sempre a agenda, fazer compras sem olhar para a lista ou contas de cabeça, e, sobretudo, leitura e recordações. Dizem que recordar é viver e, de acordo com as descobertas de mais recentes estudos sobre Alzheimer, recordar é o que mantém vivas as células cerebrais, podendo funcionar como uma verdadeira fonte da juventude. Quem diria, da fonte não jorra água, e sim, recordações. Se necessariamente boas, ou más, nada diz a matéria, o importante é recordar, recordar para viver.




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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 09/06/2011
Código do texto: T3023833






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quinta-feira, 9 de junho de 2011

Crendo ou não, cuidado com a 'midivisão'


Já ouvi de muitos: quem muito vê TV fica doido. E eu vi, com esses olhos que a Terra há de comer, não sei, se eu antes não mandar cremar, é que ainda não me decidi por um plano; se bem que cinzas é bem mais prático que uma cova com caixão, e fede menos. E de escolher nos pouparão a todos se a Terra vier, logo, a virar pó; em breve que digo, ainda nesta nossa geração. Planos pra lá, o que vi foi uma senhora ir perdendo o juízo, pouco a pouco, de tanto que passava o dia em frente à televisão (ligada, claro, com mais de não sei quantos canais), e foi passando a crer em todos os especialistas, teorias e profetas que lá habitam, o mundo da in-Formação, entretenimento, manipulação sem fim. Interessante era observar como ela mudava de hábitos e opiniões de acordo com o ‘trend’ do momento. Houve uma época em que, como tudo causava câncer, passou a não querer comer mais, só aceitando infusões e, por vezes, luz do sol, que não podia ser em excesso por causa da radiação. Depois vieram os complôs de espionagem, as viroses, pestes, os surtos de bactérias e as crenças, a fase pior. Todos os dias uma igreja diferente anunciava o fim do mundo e a urgência da conversão, e ela acreditava em tudo: visões, aparições, encostos, milagres, curas, e num sincretismo de dar inveja a qualquer constelação cultural. Crer não é problema, problema é militar, ou ‘proselitar’, digo. Se essa palavra não existia, acabei de inventar, e que saiba o leitor que tem a ver com proselitismo, encher o saco e aliciar os outros. Era um saco sem fundo ter que ficar ouvindo-a por horas a fio falar sobre tudo o que dizia crer e, pior ainda, tentando converter paredes e outros ouvidos, que remédio outro não tinham senão ouví-la. Meu Deus, é que matar um ser humano, dizem, além de pecado é imoral, é atentar contra o direito básico, e de todos, de respirar, isso pelo menos. Daí que, seguindo o conselho de um senhor já há mais de 50 anos casado: “Fazer de conta que não se ouve é o que faz um casamento durar”. E assim mesmo faziam as pobres vitimas daquela ‘mítima’, vitima da mídia e da televisão. E olhe que ela durou! Não querendo ficar doido, leitor, cuidado com a ‘midivisão’. Nos dias de hoje não é o amor que está no ar, e sim informações, e em rede, onde tudo pode ser manipulado. Guerras estão rolando há anos na Internet, e se eu não havia lhe dito antes, foi pra não lhe influenciar. Julgue você mesmo.



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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 08/06/2011
Código do texto: T3021216




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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Fronteiras e Arena Literária


Nacionalismos, assim como religiões, têm até prós em certa medida, reconheço. Em exagero, no entanto, só tendem a prejudicar. E nacionalismo em Literatura (fundamentalismo em geral) vejo como sinônimo de idiotice — e quando penso em nacionalismo recordo Policarpo Quaresma, ou ‘o Ubirajara’, personagem de Lima Barreto que gostei muito de conhecer. O ser humano e sua literatura são universais. O que ocorre é que certas pessoas tentam impor aos outros suas fronteiras, coisas que exploradores bem sucedidos afirmaram jamais terem visto na vida real, sendo, portanto, fruto da imaginação de cada um.

Por isso eu costumo ler de tudo, e dou preferência aos originais. Recorro às traduções quando não há outro jeito, ou desconheço a língua, e ainda assim com um pé atrás. Sei que tradução é um processo complicadíssimo e, fora as limitações e particularidades de cada língua e visões de mundo, errar é humano. A reputação do autor ou autora me serve de guia, algumas vezes também a de editores. Leva-se muito tempo para se construir um nome, por isso este critério.

Escrevo sobre isto após ter lido defesas a um tipo de nacionalismo literário: ‘Aqui só entra literatura nacional!’ Claro que se deve valorizar e dar preferência à produção local, porém mantendo um olho bem aberto para o resto do mundo. Muitas vezes, descobrimos mais sobre nós mesmos e nossa cultura a partir de um olhar estrangeiro. Quando vivia no Brasil eu era só brasileira. Vivendo na Alemanha tornei-me latino-americana, cidadã do planeta. À distância, tive (e estou tendo) oportunidade de conhecer melhor nossos vizinhos, nossos problemas e mentalidades, e isso tem sido enriquecedor.

Por isso me alegrei com a escolha de Vargas Llosa para o Nobel, com a exposição da Argentina na Feira do Livro em Frankfurt, com os jornais do mundo elogiando o Brasil no final dos anos-lula, sem ocultar os problemas, claro. Alegrei-me até com a publicação de poemetos de Marilyn Monroe, num caderno especial de El País; também com o aparente aumento de consciência, responsabilidade política e ecológica de cidadãos no mundo inteiro, enfim: com a quantidade de ótimas publicações disponíveis hoje, e de graça, na internet. As besteiras abundam, é verdade, e como na TV, há que se saber procurar.

Falta visibilidade para bons autores em língua portuguesa, novos e antigos; verdade. Se em certos sites muitos ficam escondidos, dirá na rede mundial, onde o Português, venhamos e convenhamos, perde em popularidade para línguas como Inglês e Espanhol. Esses autores, via-de-regra, não têm apoio de ninguém, muitas vezes nem da própria família e dos amigos, e é difícil construir um nome, manter ideais livres da armadilha de querer agradar a certos públicos. Mesmo assim, na hora de selecionar bons textos o critério deve ser, sobretudo, literário, e não político, nacionalista ou outro qualquer.

Ser escritor não tem nada de glamour, sem falar que o mundo literário está cheio de gente mesquinha e vazia, mas que sabe influenciar. Um respeitado critico literário alemão disse, certa vez: "Quem não viveu entre literatos não sabe o que é odiar", não com estas exatas palavras, mas neste sentido. Se isto for verdade, pena, pois ver o meio literário como uma arena desestimula a participação de quem ama a Literatura e não deseja aprender a odiar. Ódio, inveja, mágoa e outros sentimentos negativos destroem quem os carrega e só causam danos aos demais.

Ignorar pessoas e opiniões maldosas no meio literário trata-se de uma escolha pessoal, escolha essa que me faz sonhar com a vitória da Literatura, da boa sobre a má, como venceu a de Llosa e a de tantos outros, como vence a de bons autores surgidos a cada nova geração, buscando sua voz e dispostos a brincar com palavras (porém com seriedade), também a fugir de realidades e padrões, a contar suas boas histórias, ou, simplesmente, a se aperfeiçoarem na arte de escrever. Enfim, na vitória de uma literatura que vive por si só, não se deixa comandar, e, muito menos, restringir.




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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 05/06/2011
Código do texto: T3015120




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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Um dia em que a sentimentalidade* venceu


Além da impaciência, típico de quem está ‘esperando’ é ficar sentimental, por vezes demais. Não gosto, brigo comigo até, para não falar tão abertamente sobre mim, ainda mais na Internet, que nada de reservado tem. Abro exceção hoje, sem medos, só por estar sentimental.

E fiquei ainda mais depois de ler o post da colega Isolda Herculano, ‘Sentimental’, que fez parte da habitual armadura desabar. O texto trata do desejo de ser mãe e do medo de que seja tarde demais. Meu Deus, ela só tem 27 anos! Nesta idade havia tanto para eu desbravar, filhos estavam fora dos planos e encontrar o parceiro certo, utopia. E pensando sobre isto, e nas voltas que o mundo dá, criei coragem e comentei o texto da colega:

“Oi, Isolda, penso que há uma enorme diferença entre querer ter filhos 'podendo' e querer 'não podendo' ter. Estou à beira dos 38 e esperando meu primeiro filho, sem neuras, pois encontrei minha cara-metade depois dos 30 e só agora conseguimos engravidar. Fico feliz que nosso bebê seja fruto de um grande desejo e está sendo aguardado com muito amor. Nem toda mulher tem vocação para ser mãe e, nestes casos, se ela puder engravidar, melhor mesmo é evitar. Mas isto, só ela mesma para decidir, ninguém mais. Quando eu era mais jovem, ainda sem uma profissão definida ou um parceiro de verdade do lado, alguém com quem pudesse contar, também pensava e dizia que não queria ter filhos, pois mãe solteira não queria ser (cresci sem pai e senti muita falta). Quando quis ter, descobri que não seria tão fácil engravidar. Pois bem, tudo tem seu tempo. Importante é tapar os ouvidos às opiniões alheias e deixar o corpo e o instinto nos levarem, se assim quisermos, claro. Corajoso este texto. Reluto em falar tão abertamente sobre mim, ainda mais num ambiente aberto, mas trocar experiências por vezes é muito gratificante. Deixe rolar. Um abraço fraterno!”

E que fique aqui o registro de um dia em que a sentimentalidade* me ganhou, um dia em que me permiti estar, como na canção de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, interpretada por Altemar Dutra, sentimental demais.

São os hormônios, só pode ser!

SENTIMENTAL DEMAIS (2)

Sentimental eu sou
Eu sou demais
Eu sei que sou assim
Porque assim ela me faz

As músicas que eu
Vivo a cantar
Têm o sabor igual
Por isso é que se diz
Como ele é sentimental

Romântico é sonhar
E eu sonho assim
Cantando estas canções
Para quem ama igual a mim

E quem achar alguém
Como eu achei
Verá que é natural
Ficar como eu fiquei
Cada vez mais
Sentimental.


* De acordo com meu dicionário raquítico, o substantivo é sentimentalismo. Em meus textos (pretensamente) literários, dou-me o direito de brincar, não resistindo muitas vezes em corromper levemente a língua, mas só de leve, devagar. Se assim não fora, mataria eu, nestas ‘letripulias’, 90% do meu prazer em escrever. Grata pela compreensão.


(1) Blog da Isolda: Sentimental.
Isolda Herculano também escreve no Recanto.
(2) Fonte: aqui.



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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 06/06/2011
Código do texto: T3017104




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Erros, Vagas e Leitura... Ó!


Estou tentando me livrar da insana mania de ler jornais, mas é difícil passar um dia sem saber o que está se passando no mundo, e no Brasil. Sim, esses jornais online, jornais pés-de-chinelo,  como um comentarista já me acusou de ler, são a forma mais rápida para eu não perder de vista o que anda se passando no meu país. Afinal de contas, tenho ainda muitas raízes por lá e não estou nem um pouco afim de cortá-las. Hoje cedo, li na Folha Online a nota: Erros de português podem eliminar candidatos a empregos (1). Chamaram-me a atenção os tipos de erros considerados mais sérios.

Citando: “Ainda que seja chamado para a entrevista, o candidato é visto com ressalvas pelo recrutador, afirma a consultora Cíntia Bortotto. Para ela, os erros mais sérios são as trocas de 's' e 'z', como na palavra 'análise' (correto) e 'análize' (errado), e de 'x' e 'ch', como 'baixar' (correto) e 'baichar' (errado)."[Para evitá-los], basta passar o corretor do programa de texto", ressalta.”

Boa a dica do corretor, mas o problema é outro (minha opinião!).

De um ponto de vista fonético, parece não haver diferença entre /s/ e /z/ e /x/ ou /ch/ nos exemplos citados. Daí a freqüência do erro. É bem diferente em casos como ‘carro’ e ‘caro’, onde a diferença fonética entre /rr/ e /r/ ajuda muito na hora de escrever. Português está longe de ser uma língua fácil e, em minha opinião, uma das línguas românicas mais arcaicas que há. Por isso mesmo parece ser tão difícil usá-la corretamente no dia-a-dia, o que mostra o quanto o ensino da norma culta não se pode negligenciar.

Quem, na hora de escrever, tem dificuldades em distinguir palavras com /s/ e /z/, /x/ ou /ch/, só para citar alguns exemplos, geralmente não tem o hábito da leitura, ou se o tem, restringe-se a textos de qualidade duvidosa que recheiam o mundo online, pois, dentre outros, o hábito da leitura ajuda a internalizar a gramática, pelo menos em sua forma escrita.  Ou seja, pra não cair nestas armadilhas só vejo dois caminhos: estudar gramática e ortografia à seco ou ler bons textos.

Eu, que já peguei a Escola avacalhada, penso que meus ancestrais tiveram acesso a um Português muito melhor do que o meu, no entanto, na hora de passar por qualquer entrevista jamais tive medo: antes de qualquer conhecimento específico, continua tendo grande vantagem quem sabe usar bem a própria língua, e nos mais diferentes sentidos e ocasiões. E isto qualquer um pode aprender, basta querer e esforçar-se para tal.






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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 04/06/2011
Reeditado em 16/12/2011
Código do texto: T3013356





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domingo, 5 de junho de 2011

Saúde & Cia.


“Saúde e paz, do resto a gente corre atrás.”, bordão com o qual um apresentador (ou ex) costumava terminar um programa de TV brasileiro semanal. Pensando em como funciona o sistema de saúde nos EUA, e no Brasil, essa frase tem tudo a ver: ninguém pode adoecer! Nos EUA, por exemplo, até onde sei, são vários os casos de milionários que acabaram na ruína após adoecerem ou se acidentarem, por causa dos custos inimagináveis e do funcionamento do sistema de saúde de lá, baseado em planos privados, como no Brasil. Ou seja, quem não puder pagar já está condenado.

Lembrei disto após ler um post interessante no Blog do Cacá (1) sobre a classificação das doenças em municipais, estaduais e federais, determinando quem deverá arcar com remédios e tratamento. Não é à toa que esta nota é da série Tragédia Humana Diária, pois como diz a Susana Barbi, rir é o melhor remédio, nesse e noutros casos.

Pois bem, a primeira vez que baixei hospital na vida foi aqui na Alemanha, e ao acordar numa UTI, toda entubada, após agradecer a Deus por estar viva, fui tomada pelo pânico: Como iremos pagar essas horas de UTI? Há quanto tempo será que estou aqui?

Quando meu marido chegou para me visitar e contou o que havia se passado comigo da sala de operações até ali, um alívio imenso me tomou ao ouví-lo: “Calma, não estamos no Brasil, não será preciso vender a alma ou a casa para pagarmos o hospital.” Mais tarde, quando chegou a prestação de contas, quase não cri: o seguro-saúde que pagamos ao Estado arcou com quase tudo! A nós, apenas a estadia no hospital e o transporte da ambulância, baixa quantia.

Incrível! Pobres e ricos freqüentam os mesmos hospitais, não vi diferença no tratamento básico. Lógico que, quem pode pagar mais, e havendo camas suficientes, pode optar por pequenas mordomias, como um quarto só para si, comida especial etc. E ainda tem gente que reclama! Lógico que há problemas, sempre haverá, e em qualquer lugar, mas creio que os daqui serão sempre vistos como bagatela por quem só pode contar com sistemas como o da saúde pública no Brasil.

Não penso que a Alemanha seja pior ou melhor, é, sim, apenas um exemplo do que ocorre quando o povo exige do governo prioridade à Saúde e à Educação, propiciando um tratamento mais igualitário e o desenvolvimento, de fato, do país. E isto não é utopia, sim o que tenho visto e vivenciado do lado de cá.




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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 04/06/2011
Código do texto: T3013293





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sábado, 4 de junho de 2011

Liberdade Virtual


Será que políticos temem mesmo movimentos virtuais? Bom seria se temessem, mas tenho minhas dúvidas cá, ainda mais em países em que ‘punição’ é coisa rara. Aliás, seriam políticos ainda capazes de se constranger?

Cidadãos do mundo inteiro têm, na rede, uma forma de criticar e impor a participação nas decisões políticas, queiram os governos ou não. E isso se deve, boa parte, ao fenômeno das redes sociais. Dentre movimentos que partiram da esfera virtual, dizem os jornais, estão as revoltas em cadeia no mundo árabe, o povo indo às ruas — na Grécia, Espanha e Portugal, por exemplo —, protestos contra os desmandos de seus governos, contra o sistema financeiro atual, no qual avaliações duvidosas podem destruir num dia a estrutura de todo um país.

Alías, no tocante a crises financeiras, rola à boca pequena que três grandes grupos americanos estariam empenhados em acabar com a União Européia, país por país, num efeito dominó. Soa a teoria conspiratória, mas não duvido de nada. Basta a palavra de um só ‘poderoso’ para abalar a credibilidade financeira de todo um país, ou vários, e isso o mundo já viu passar.

Socialistas perderam as eleições na Espanha, alguns ditadores árabes estão na corda bamba, protestos na Grécia e em Portugal não saíram ainda da pauta dos jornais. E no Brasil, é político tendo que explicar origem duvidosa de patrimônio e é a greve dos professores, que não sei em que pé está, e depois de ver a repercussão do depoimento da professora Amanda Gurgel (1) espero que tenha um bom resultado desta vez. Desde pequena, vejo e ouço falar em greve de professores brasileiros. Já sofri com várias delas e eles têm todo o direito de reclamar! As reivindicações são quase sempre as mesmas. Entra governo, sai governo e quase nada muda. Será diferente desta vez? Espero que sim.

Tenho a impressão de que as pessoas estão iradas, cansadas de sempre terem que pagar a conta das más administrações, de sustentar políticos que não têm uma mínima noção do que é responsabilidade fiscal, social, o que seja, e ainda debocham dos cidadãos que lhes pagam altos salários pela ‘diz-que’ representação.

Como disse um colunista da Folha de São Paulo (2), embora num outro contexto, em tempos de tanta interatividade o cala a boca já morreu. A exemplo da censura que ocorre na China e no Iran, a pergunta que me ocorre agora é: até que ponto permitirão a continuidade desta nossa imensa liberdade virtual? Como será que tentarão restringí-la, desacreditá-la, torná-la banal?

Fazer com que compremos a idéia de que protestos não levam a nada ou a de que certas campanhas ficam mesmo só no virtual já seria uma estratégia, não?




(1) Folha Online – 23/05/2011

(2) Luiz Caversan - Cala boca já morreu – 21.05.2011 – Folha Online





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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 03/06/2011
Código do texto: T3011376




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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Mitzplick, Mitzplack


Puxa, seu trabalho é muito bom!
Posso seguir a vida com isto!
Aterrissemos, falo do design.
Não dos símbolos?
Nada entendo, estão em Mitzplick.
Ah! Sim, falo sério; com esta qualidade você poderia trabalhar para uma...
... com criações alheias, e em Mitzplack.
E só lhe interessa Mitzplick? Caiamos na real, sem Mitzplack não dá.
Sem Mitzplick não vejo razão, em qualquer lugar.
Pode ser que haja um modo...
... pode, e por certo há.
Não queria lhe desiludir, mas...
... recado dado: ninguém valoriza Mitzplick.
Por ora, isso: só Mitzplack!

Cansaço? Não desista! A única diferença entre o um e o outro é a fé (e o trabalho) que cada qual NO SEU deposita. Quem viver, verá.


Mitzplick, mitzplack... o que poderia ser? Senão vejamos... como ficamos?! Diga-me o leitor o que entendeu. Sim, para mim tem um significado específico, mas se é um neologismo... não, melhor não exagerar. Que tal trocar por X e Y, desde que sejam relacionados? Sei lá, deixe a imaginação rolar, pois para isso (dizem!) também servem os textos literários: sugerir, mas sem revelar :-) Grata a todos os comentaristas, um abraço fraterno!



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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 28/05/2011
Código do texto: T2998401




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