segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Perdemos a noção...


e assim seguindo, a nação também.

Não, não ia falar nada, mas, como quem cala consente, não quero que depois ninguém venha com j’accuse pra cima de moi. Pois bem, aqui o meu protesto:

Dizem que brasileiro leva tudo na brincadeira, né não? Elegeram muitos palhaços candidatos, e eu daqui achando que era brincadeira. O Brasil tem jeito mais não, vice!  E agora, nada pessoal contra os palhaços deputados e senadores, mas, lamentável a escolha de pessoas sem as devidas qualificações para uma comissão que objetiva definir políticas educacionais  (para o país!!). Olhe que não costumo me assustar com qualquer coisa, mas desta vez, peraí, não?! Pior do que a escolha, o critério: só basta ter vontade de participar. Depois de uma dessas, como convencer qualquer criança ou jovem no Brasil de que vale ainda a pena estudar? Só se for pra dizer: “Vale sim, crianças, estudem e tentem ir embora o mais rápido possível porque aqui... E para as pessoas que amam o chão em que nasceram, que trabalham e ainda se esforçam para vê-lo prosperar, é duro ter que engolir chacotas do mundo inteiro pois, contra fatos não há argumentos. Ninguém por aí, por acaso, andou pensando, ultimamente, em mandar pelos ares o congresso nacional? Um conselho: tem que ser numa terça ou quarta-feira, vice, pois de quinta a segunda só aparecem os paletós para tsc, tsc, tsc... trabalhar. Eu bem poderia ter me esforçado pra escrever uma crônica melhor. Pensando bem, um só exemplo vale mais que mil palavras e, a mensagem está clara feito bolha de sabão: “Se esforçar pra quê, se semi-analfabetos têm mais chances de futuro (e sucesso) que você?”

Mas que bandalheira! Ou como dizia minha mãe: "Se amarra o dono no rabo do burro." Ê, Brasil!


Ops! corrigindo: "Se amarra o burro no rabo do dono".

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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 28/02/2011
Código do texto: T2819679


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sábado, 26 de fevereiro de 2011

A visita do meu amigo príncipe e o ser olhar-de-canhão


“Pegar carona nessa cauda de cometa
Ver a Via Láctea, estrada tão bonita
Brincar de esconde-esconde numa nebulosa
Voltar pra casa em nosso lindo balão azul...”

Trecho de Lindo Balão Azul, Guilherme Arantes.

Outro dia, meu amigo príncipe veio me visitar. Há tempos ele não vinha. E como combinado, fui esperá-lo na estação mais próxima aqui de casa. Viajar em cometas amedronta muita gente. Não devia ser assim, já que é como andar num Zeppelin: uma imensa bola de gás em movimento. Um meio de transporte seguro, só que é preciso ter muito cuidado na hora de aterrissar: os passageiros têm que saltar depressa,  para que não aconteça o que se deu com o Hindenburg, em 1937, que, pela lerdeza da primeira classe (Ops!, ou teria sido o Titanic? Não importa agora...), queimou até o grão ao chegar ao destino, Lakehurst, Estados Unidos. Pensou-se em acidente ou atentado, mas meu amigo tem outra versão: culpa dos maus hábitos alimentares do mundo capitalista. Acho que ele tem razão: haja gás!

Pois bem, viajar com a Cometas S.A., companhia detentora da maioria das cordas que interligam os universos, é rápido e sai bem em conta, sem falar na mordomia que os passageiros (ainda!) têm a bordo. Nada comparado às companhias de vôos baratos, nas quais até pra se ir ao banheiro é preciso pagar, e por minutos!

Meu amigo desembarcou na hora combinada. Foi eu chegar à estação que a bola de fogo riscou o lugar. Desembarque rapidíssimo e zap!, o cometa seguiu de volta. Meu amigo só trazia bagagem de mão, uma pequena valise. Nossa, quanto tempo! Nos abraçamos com muita saudade. Ele estava envelhecido, mas não tanto quanto eu. É que os ares lá no B612 continuam limpos. Aqui na Terra, bom, melhor nem comentar...

Perguntei se havia feito boa viagem. “Tudo tranqüilo!”, ele respondeu. “E a Rosa, como vai?”, eu quis saber, alegre. “Fresca, como sempre. Sabes bem como as rosas são... ”, ele me respondeu, estirando os lábios num terno sorriso, que brilhava tal e qual recordo-me de quando era menino. “E o que te traz aqui, tão de repente?”, perguntei. “Saudades, minha cara, desejo de rever os amigos e respirar novos ares...”. “Pois, muito bem-vindo!”, proferi, dando-lhe uns tapinhas nas costas.

Pouco demorou e já estávamos no carro, a caminho do pequeno vilarejo que escolhi para me esconder, um fragmento de paraíso na Terra, embora não se sabe até quando continuará assim. Perguntei se ele estava com fome, e ele: “Não, fiz uma bela refeição durante a viagem, obrigado.” O percurso de automóvel, longo, prometia ser agradável. Conversamos sobre quase tudo, ele me pôs a par dos últimos acontecimentos nos universos das cordas de lá, e eu nas dos de cá, e falou-me de suas últimas explorações. Num dos últimos buracos negros visitados, contou-me de seu encontro com o ser olhar-de-canhão. Sem dar tempo à minha curiosidade fazer qualquer ninho, seguiu com a história:

— Assim eu o chamei, por seu olhar extremamente rígido. Imagina tu, ele vive num asteróide paradisíaco, muito mais belo do que este planeta azul e, jamais havia sequer se dado conta disso. Pelo que pude observar, ele enxerga o mundo através de um cano, e tudo o que vê no pequeno orifício no final são as linhas fixas que determinam a trajetória do seu olhar balístico. Interessante não deixa de ser, mas confesso que achei triste, muito triste... Desperdício de vida, e talento. Um belo dia, depois de já havermos travado contato — eu passava sempre nos finais de tarde para conversarmos —, pus-lhe um objeto na frente do canhão e pedi que me o descrevesse.

— Que coisa horrível! — exclamou o ser, e continuou: — Nunca vi algo tão monótono, inerte, rígido, tão... faltam-me palavras para descrever. Como jamais havia notado tal monstruosidade em meu planeta? Essa coisa não devia estar por aqui! “Cortem-lhe a cabeça!”

— Seu planeta? —, perguntei sorrindo com perplexidade.

— Sim, meu! Tudo o que conseguires ver aqui, meu rapaz, é meu, tudo meu!

— Ah, tá... está bem então... —, disse-lhe eu guardando de volta na maleta o espelho que há pouco segurara na frente do canhão.

Sem me dar tempo de refletir sobre a história, meu amigo príncipe continuou: “Pois é, minha cara, neste mundo de cordas bambas, se há algo que aprendi foi... ba-la-çar.”, falou sorrindo, degustando o verbo final. E seguimos descontraídos nossa viagem, deixando a bela paisagem do caminho, vez em quando, nos arrebatar. Enquanto isso, ia me preparando para entrar num terreno meio lodoso: perguntar-lhe sobre nosso velho amigo Exupéry...


Para G./B., com muito amor, carinho e gratidão.

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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 24/02/2011
Código do texto: T2811609

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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sonhos bobinhos, piche e muito azar


Certas lembranças, seria bom se pudéssemos guardá-las para sempre. Sabendo que isso é impossível, confiando apenas nos arquivos da memória humana, escrevemos. Sim, vai ver por isso escrevemos tanto: para não esquecer! Situações como, no meu caso, por exemplo, o show de despedida de uma banda querida.

Difícil explicar em poucas linhas o que se sente ao realizar um sonho, por mais bobinho que seja. Vi-me com quatorze anos, vivendo em São Luís do Maranhão, louca por criar asas (um dia só!) e poder voar para o Rio de Janeiro, cidade em que essa banda querida se apresentou numa de suas raras visitas — talvez única — ao Brasil. Lógico que se eu morasse no Rio, na época, dificilmente conseguiria permissão da mãe para ir ao show, e como desobediência é parte de muitas adolescências, talvez tivesse ido assim mesmo: com ou sem consentimento. Se bem que sempre preferi o time dos ‘caretas’. Vai ver por isso mesmo ainda estou por aqui “vivinha e bulindo”, como diz a minha tia.

Pois bem, passados mais de 20 anos, vi esse meu sonho se realizar naturalmente, ano passado, e com que emoção! Pena que foi o último show da banda, que, depois de 25 anos de existência, decidiu se separar, e em grande estilo. Estive em um dos shows da turnê de despedida, na cidade mais antiga da Alemanha, Trier, fundada pelos romanos com o nome de Augusta Trevorum no século 16 a.C. Resquícios dos romanos estão ainda por toda a cidade: restos de Termas e o mais famoso monumento da cidade, o imenso portal denominado Porta Nigra.

Da primeira vez em que estive lá, uma senhora contou uma lenda sobre o significado da expressão alemã ‘Pech haben’ (ter azar, má sorte). Antigamente, quando a cidade era protegida por muros, os soldados de Trier deixavam o primeiro portal aberto, se posicionavam no alto das torres da Porta Nigra e ficavam esperando os invasores se amontoarem na parte interna rente ao segundo portal, daí fechavam o primeiro e jogavam piche, resina negra e pegajosa derivada do alcatrão ou da terebintina (segundo o Houaiss), substância que, em Alemão, também se chama ‘Pech’. Para os invasores que recebiam o piche (borbulhando!) na cabeça, era preciso mais do que sorte — um milagre! — para sair vivo dali. Daí o povo passou a usar “Pech haben” (levar piche) para situações em que alguém teve muito azar.

Pois bem, comecei lembrando da minha banda querida e acabei nos portões de Trier... Desculpe, estou num momento de escrever aqui só para relaxar, sem pensar muito. Quanto à lenda do piche, se é mentira, culpa da senhora lá! Apenas recordei aqui o que ela contou.

A você que me leu, boas companhias e muita sorte ao longo do dia, pois piche na cabeça (ou azar) ninguém merece! — se bem que, no caso de ditadores e políticos bandidos... "Cala-te boca!" Um abraço fraterno!



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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 23/02/2011
Código do texto: T2809483



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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Nós, piolhos


Outro dia, na escrivaninha da recantista anabailune, li o texto 'Blá Blá Blá...' (categoria Humor), que apresenta uma pequena coletânea dos julgamentos mais comuns encontrados no Recanto, e adverte do perigo de nos comportarmos feito ‘piolhos’, ou seja: irmos sempre pela cabeça dos outros. O texto é 10! Recomendo. Até deixei um comentário, como sempre faço quando tenho algo a dizer.

E pensando sobre o tema ‘ir pela cabeça dos outros’, lembro sempre da fábula ‘o velho, o menino e o burro’, que li ainda pequenininha num livro de Monteiro Lobato. Aliás, um livro que eu adorava ler. Trago na memória bem nítidas as gravuras, e algumas das fábulas jamais esqueci, como esta. E por falar em fábulas, agora estou lendo as fábulas dos irmãos Grimm; em Alemão, claro. Por vezes, não entendo certos vocábulos, por serem arcaicos, daí peço ajuda a meu marido ou aos dicionários. Tenho tentado ler, a cada noite, uma fábula. Ao todo, o livro traz umas 210 — contei rapidinho, só pra ter uma idéia.

Sim, a fábula ‘o velho, o menino e o burro’ ilustra exatamente a asneira que é se deixar dirigir por opiniões alheias. Ao fazermos isso, acho que nossa identidade deixa de ser ‘a nossa’ para se tornar um conjunto de fragmentos da  ‘dos outros’, tudo isso num esforço de não desagradar.

Este semestre, li muita coisa sobre Estudos Culturais, e posso dizer que aprendi a ver construções como Identidade, Cultura, Nação, Racismo e Gênero de uma forma muito diversa de como as concebia antes, ou seja: o que antes via como conceitos estabelecidos passei a perceber como meras construções, algo que pode muito facilmente ser usado como meio de manipulação.

Para construirmos a própria identidade, necessitamos sim do olhar do outro, mas isso não significa que a parcela alheia tenha que levar vantagem na construção final. Aprendi também que, coisas como o racismo, teoricamente, se pode combater, mas não eliminar. Ao que parece, assimetrias na contemplação dos outros são inevitáveis, de modo que certas construções mudam de forma, nome e objeto, e seguem acompanhando fielmente a humanidade em sua história.

Se eu vinha há anos exercitando a arte de minimizar o efeito do olhar alheio em minha vida, agora mesmo, depois deste semestre cultural, sinto que a coisa cristalizou. E que sensação de liberdade isso me dá! Na verdade, em condições de vida dignas e estáveis, e aqui me refiro a coisas materiais, a vida é muito simples, o resto são complicações inventadas que alguns tentam porque tentam nos impor.

"Be yourself no matter what they say"
(Seja você mesmo, não importa o que digam)
Trecho extraído da canção Englishman in New York, Sting, 1987
Álbum: ...Nothing Like the Sun

Ah, classifiquei este escrito como crônica sem pensar muito em suas características. Se você achar que não é, agradeço se me disser. Eu até lhe escuto, mas pretendo deixar assim mesmo :-). Um abraço fraterno!


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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 19/02/2011
Código do texto: T2801301

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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Um dia após outro, e uma noite bem dormida no meio deles


Disso todo mundo precisa.

Fazia tempo eu não encontrava espaço para entregar-me ao livre exercício de escrever, embora tenha escrito bastante nos últimos dois meses. Me refiro a dar vazão a pensamentos vagos, bobos ou filosóficos, escrever para relaxar, escrever por escrever. Talvez num futuro muito distante, quando me aposente, a única coisa que não me faltará será tempo para escrever. Por enquanto, o lema é: ‘ Trabalhar, trabalhar e vamos em frente que atrás vem gente, e eles vêm empurrando!’

Uns morrem, outros nascem, e assim segue a vida no planeta Terra. Bom, pelo menos enquanto este existir. Ouvi boatos de que o mundo se acabará em 2012, previsto pelos Mayas, dizem. Vi o filme (tsc-tsc-tsc...) — Que sacrifícios não se faz por uma amizade... He he he... Bom, certas coisas melhor nem comentar: já pensou se acertam desta vez? 2011 seria então o último ano (do princípio) de nossas vidas. Já parou pra pensar nisto? “O que VOCÊ faria se só TE restasse esse dia? Se o mundo fosse acabar, me diz o que VOCÊ faria...“ (1).

Olhe, se isso acontecesse mesmo, nunca valeriam tanto aqueles versos da canção Pais e Filhos, do Renato Russo: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há.” Não tenho medo do fim do mundo, pelo menos por ora. Para mim, o mundo acaba e recomeça todos os dias, muito diferente das misericórdias de Deus, que se renovam a cada manhã e jamais se esgotam. E é por elas que eu não cesso de orar.

O legal de renascer todos as manhãs é exatamente esse sentido de renovação, a vontade de deixar para trás, definitivamente, o que passou, e não ter nada mais à frente que não a imensa vastidão da folha em branco da própia vida, folha essa que se vai preenchendo com sentimentos, ações e suas conseqüências.

Sei que é difícil vir com um papo desses para quem vive diariamente em meio à violência, a guerras e ameaças terroristas. Mas se ninguém mais falar sobre essas utopias, aí mesmo é que a vida estaciona, e justo no ponto em que se fica só esperando a morte, todos os dias, ou de “passar agosto esperando setembro, se bem me lembro”(2).

Pois bem, por ora saciei minha sede de escrever; agora é começar as tarefas do dia, que são muitas! A você, que me leu, desejo um bom dia e paz de espírito pra tocar em frente.

Inté!

Ah, classifiquei este escrito como crônica sem pensar muito em suas características. Se você achar que não é, agradeço se me disser, mas pretendo deixar assim mesmo :-). Um abraço fraterno!



(1) Trecho de 'O Que Você Faria', Paulinho Moska.
(2) Trecho de Bandeira, Zeca Baleiro.

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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 17/02/2011
Código do texto: T2797099

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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Memórias de Maria Teresa - "Vou me suicidar!"


Quando adolescente, houve uma época em que Teresa, minha amiga, pra tudo o que acontecia, só sabia dizer: “Vou me suicidar!” Não, ela contou que não estava deprimida, talvez fosse só uma forma de chamar a atenção, ou chatear uma irmã mais nova, bichinha braba que só! Cansada dessa conversa, um dia essa irmã chegou pra ela, lhe empurrou um papel dobrado e disse, com a cara mais limpa:

—Toma! Escolhe uma.
— O quê?
— Uma forma, ora bolas! Aí tem mais de dez. — disse a irmã apontando pro papel.

Teresa conta que desfez as dobraduras devagar e leu. Por certo: mais de dez maneiras diferentes de tirar a própria vida. Não lembrava mais se riu na cara da irmã, só sabe que foi repassando, uma a uma, as opções oferecidas:

— Essa aqui dói; essa outra suja muito; essa aqui pode falhar da primeira vez ... — e assim por diante.
— Tsc... tsc... tsc, irmãzinha... — disse a irmã batendo o pé com impaciência — anda, escolhe uma! — o tom não pareceu o de quem estava brincando.
— Peraí, pô — atalhou Teresa —, uma decisão assim, importante, não se pode tomar vexado...
— Te dou cinco segundos: um...
— Quéisso, maninha...
— Escolhe tu ou escolho eu: dois...
— Fala sério!
— Tô falando: três...
— Brincadeira,  né?
— Não queria morrer? Quatro...
— Mas era de morte morrida.
— Cinco!

Aí a irmã puxou uma baita de uma peixeira e partiu para cima da Teresa. Esta, vendo que a coisa era séria, saiu correndo pedindo socorro, e a maninha atrás.

Menino, foi uma carreira a que essa menina deu na Teresa, que pulou o muro toda se arrebentando do outro lado e foi pedir pê-pê-ú na casa do vizinho. Graças a Deus que a deixaram entrar. E a irmã ficou lá, no topo do muro, agitando a faca no ar e avisando: “Tu volta pra casa hoje, bicha véia, pode deixar que eu vou te esperar...”

Teresa ficou na casa do vizinho até o finalzinho da tarde, que era quando a mãe voltava pra casa. Já em casa, foi um bafafá danado e no final a mãe não achou justo castigar a irmã, já que Teresa vivia dizendo que queria se matar. Daquele dia em diante parece que ela mudou de opinião ou, pelo menos, deixou de manifestar seus propósitos mais excêntricos na presença da irmã.


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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 18/02/2011
Código do texto: T2800272

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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Uma língua ‘mela’ a outra, as duas se entrelaçam e dão um nó!


Isso mesmo! Portunhol’ e ‘Esparguês’ ou Português e Espanhol.

Avaliando meu nível de aprendizado da Língua de Cervantes, percebi o tamanho do meu ‘embananamento’ ao empregar certos pronomes. Fiquei pensando se isso seria pela idade —alguns especialistas dizem que perdemos muito de nossa capacidade de aprender à medida em que envelhecemos, e eu só comecei a estudar (pra valer!) Espanhol ‘isturdia’... —, ou seria pura falta de atenção, ou ambos. Notei que boa parte dos problemas aparecem em construções com ‘tú’, ‘vosotros’ e ‘usted’.

Por serem línguas irmãs, românicas, fiquei me perguntando se esse padrão de erro teria algo a ver com a morte anunciada do ‘tu’ e do ‘vós’ no Português coloquial do Brasil, e com a mistura entre o ‘tu’ e o ‘você’. Outro dia,  folheando um livro de Português para estrangeiros, soube da tendência para o ‘tu’ e para o ‘vós’: estas formas ainda sobrevivem em Portugal, mas estão com os dias contados no Brasil, segundo os autores da obra consultada.

Quando pequena, lembro-me de que se usava muito o “tu” no lugar onde nasci: São Luís do Maranhão. Está certo que muitos sempre conjugaram os verbos incorretamente: ‘Tu foi’, ‘Tu veio’ e ‘Tu deixou de ir’. Minha mãezinha, porém, e outras pessoas com quem aprendi a falar, e depois a escrever, não sofriam desse mal. De modo que, desde pequena, foram me acostumando a dizer: ‘Tu foste’, ‘Tu vieste’, ‘Tu deixaste de ir’, e eu não me equivocava com o ‘s’ no final de certas conjugações, indicador do ‘vós’, já raro naquela época: usado só na Igreja e em contextos muito formais (‘Vós fostes, viestes e deixastes de ir)’.

Como quem sempre manda é quem pode ($$$!), também impulsionado pelas grandes emissoras de rádio e televisão, não demorou muito para o padrão-Sudeste ganhar terreno e solidificar certas construções no terreno das falas de todo o Brasil.

Teve um tempo em que usar corretamente o “tu” e seus derivados era visto como coisa de pedante, de modo que, em certas situações, para não parecer um E.T., mais sociável era usar o ‘você’ e fazer a mistura peculiar (‘Ei, VOCÊ, tenho uma coisa pra TE contar!’). Já que todo mundo fala errado mesmo, pra quê correr o risco de se tornar impopular? Problema é que quando se começa a falar errado, os erros vão se solidificando e não é fácil corrigi-los depois.

A confusão só cresce com os imperativos. Quem não recorda da canção que lançou a dupla Leandro e Leonardo para todo o Brasil? “Em vez de você ficar pensando nele, em vez de você viver chorando por ele, pensa (tu) em mim, chore (você) por mim, liga (tu) pra mim, não, não liga pra ele, pra ele, não chore por ele...”

Eu arriscaria uma correção que, talvez, tivesse acabado com todas as chances desta canção ter se tornado sucesso nacional: “Em vez de você ficar pensando nele, em vez de você viver chorando por ele, pensE (você) em mim, chore por mim, ligUE (você) pra mim, não, não ligUE pra ele, pra ele, não chore por ele...”

Com o ‘tu’ então... imagina!

Só passei a observar melhor meu próprio jeito de falar e escrever (em Português) quando comecei a estudar outras línguas. Algumas pessoas poderão dizer que esses detalhes são bobagem. Minha experiência, no entanto, só tem me provado o contrário: dominar a própria língua é uma grande vantagem, em qualquer área ou situação.

Ah, um lembrete: não sou especialista em Português ou Espanhol, apenas uma pessoa que se interessa por línguas e gosta de pensar sobre elas de vez em quando. Se encontrar algum erro, agradeço se me informar. Um abraço fraterno!

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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 16/02/2011
Código do texto: T2796267


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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Romantismo nunca morre...




... e eu adoro receber flores!

Em tempo: após um período de muitíssimo trabalho, retorno (aos poucos) às atividades "hobbiais"... 
A quem tem acompanhado meus escritos, mui-tís-si-mo grata pelas leituras e comentários  :-)
Até breve!