sábado, 15 de janeiro de 2011

Assim 'evoluem' as línguas

Foto: HFrenzel 2006


... pelo menos para desespero dos que pensam ainda saber ler!


Eis aqui algumas frases retiradas de um texto jornalístico atribuído a ‘O Globo’, o qual tive hoje a curiosidade de ler na internet:

"Outra coisa que chamou a atenção dos presentes é que as ministras mulheres falaram mais que os colegas homens."

Por acaso há ‘ministras’ homens? E nem precisa ser especialista em português pra perceber que alguma coisa está sobrando nesta frase. Êh, pleonasmo, dá neles!

Outra pérola, e no mesmo texto:

"Palocci entregou a todos uma pasta com cópias de todas as leis que regem o serviço público e visam a garantir a moralidade na gestão pública."

Esse emprego do verbo 'visar' me incomodou. Não sou especialista em português, mas penso que o correto seria 'visar algo', não? Ou seja: ter algo por objetivo. Portanto, ‘visam garantir a moralidade na gestão pública’ e pá-pá-pá. Permita-me aqui uma gargalhada de escárnio no tocante ao uso do termo ‘moralidade’ por alguém da classe política. Políticos contemporâneos desconhecem o significado desta palavra, assim é incoerente utilizá-la.

Quanto ao uso do termo ‘presidente’, pelo menos nisto acertaram: "Como agora temos uma mulher presidente ..."

O sufixo ‘-ente’, se não me atropela a própria ignorância, significa 'aquele/a que é, o ser', ou seja: independe do gênero. Por exemplo: o/a presidente é o ser que preside, o/a dirigente é o ser que dirige, o/a gerente é quem gerencia. Nesse ponto, espero que não venham nos próximos anos querer imitar os espanhóis, que passaram a aceitar o termo ‘presidenta’ justificando evitar o sexismo lingüístico (tsc-tsc-tsc...)

Penso que discriminação (de qualquer tipo) não seja algo inerente às línguas, e sim às pessoas que as usam. Bem, mas este já é outro tema.

Bom, como ‘moralidade’ há muito não está mais associada a políticos, o mesmo está ocorrendo com o par (se antes junto, agora litigiosamente separado) ‘jornalista’ e ‘saber escrever’.

E o pior: textos como este do jornal geralmente são usados por muitos como 'modelo para copiar'. Eu, hein?!

Assim ‘involuem’ as línguas, né não? E esse meu erro foi proposital :-)

Um abraço fraterno.


Ah, conscientemente ignoro o recente acordo ortográfico. Lingüística vai morrer comigo assim, 'tremendo no u'!


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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 15/01/2011
Código do texto: T2730758


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