quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Corazón tan blanco


‘Corazón tan blanco’, livro de Javier Marías, o último que acabo de ler. Experiência literária como poucas este ano: uma tensão boa do começo ao fim, surpresa a cada novo capítulo, nova história, novo trecho; um trecho puxando outro, relembrando, repetindo sem de fato repetir, Leitmotiv encadeando frases, feitos e pensamentos. Terminei de lê-lo ontem à noite e durante a leitura me peguei várias vezes dialogando com o texto, tentando antecipar o final, em vão. Branco: pureza ou covardia? Em sonho, enveredei por vários dos caminhos sugeridos no fim, sem me dar conta de que sonhava, até acordar.  Muitas das passagens ainda ecoam em meus ouvidos, sem qualquer esforço para mantê-las. O texto canta sem ter rima. Sei disso pois li vários capítulos em alta voz, no compasso da pontuação e sem ignorar pausas. Num texto, assim como na música, pausas têm significado e muita importância, devem ser respeitadas! E Marías soube usá-las com louvor -- palavras, pausas, pontuação -- para dar cadência e fluidez ao texto, meu Deus! Obra de arte. A história é bem orquestrada. Em alguns momentos até pensei: ‘Pra que raios o narrador está me contando isso’ e as respostas foram surgindo, no tempo certo, e sem antecipação do final, que segue aberto, e satisfaz -- talvez pela idéia de que toda história é infinita, segue sempre, depende da forma de contá-la.

Um pouco sobre a história: Juan é um intérprete que se casa com Luisa, uma colega de trabalho. Desde o dia de seu casamento começa a sentir um crescente mal-estar, um pressentimento de desastre por ir descobrindo, sem querer, coisas que desejava jamais ter sabido.

Este livro foi lançado em 1992. Li a terceira edição em Espanhol e não sei se já foi traduzido no Brasil. Cheguei a ele por recomendação de um velhinho gente boa e que entende muito de Literatura, um contador de histórias, também histórias da vida real, História da Literatura.

Para terminar, valeu a pena o dinheiro investido neste livro; e não foi caro. Na lista de livros lidos este ano, coloco-o com cinco estrelas, pontuação máxima do meu banco de dados, ao lado de El Amor en los Tiempos del Cólera, de Gabriel García Márquez. Leia-o também; se gosta de boa literatura, dificilmente se arrependerá.

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Helena Frenzel
Publicado no Recanto das Letras em 14/10/2010
Código do texto: T2556338



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